Pois é, os dispensacionalistas estão que nem siri na lata. A renúncia de Bento XVI como bispo de Roma – vulgo Papa – despertou mais uma vez a criatividade – pra não dizer outra coisa – dos meus irmãos em Cristo que professam essa teologia/escatologia de incoerências.
Em resumo, a pretensa teoria diz respeito a uma interpretação equivocada de Ap 17:10, que sugere que a última sequência de Papas se encaixa perfeitamente no texto bíblico. Segue o texto (versão ACF):
E são também sete reis; cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo. (grifo meu)
Esse “outro ainda não é vindo”, segundo os dispensacionalistas, refere-se ao mais recente líder da ICAR, Bento XVI. Não vou citar aqui os pormenores da eisegese feita por eles. Isso você pode conseguir pesquisando no sr. Google. Prefiro me ater ao que de fato o apóstolo João está querendo dizer com o texto supracitado ou, pelo menos, mostrar uma interpretação mais provável e coerente.
É preciso parar de aplicar tudo o que acontece na atualidade em todo o texto do Apocalipse e começar a considerar se João também não falava de coisas de seu próprio tempo, ou mesmo de um passado anterior a ele.
Consideremos o versículo 7, que diz (grifo meu):
E o anjo me disse: Por que te admiras? Eu te direi o mistério da mulher, e da besta que a traz, a qual tem sete cabeças e dez chifres. (grifo meu)
Por “besta”, “sete cabeças” e “dez chifres” entende-se que João está mencionando aqui potências mundiais. Mais precisamente, o termo “besta” personifica todos os impérios opressores, principalmente os que existiram antes de João (foi e já não é – v. 8), mas que no decorrer da história se apresenta repetidas vezes, até que aparecerá uma última vez (há de subir do abismo – v. 8)
Prosseguindo, é dito que tal besta tem “sete cabeças”, e é aqui que João começa a ser mais específico em suas descrições. Podemos notar aqui dois simbolismos. Claramente o primeiro é referente a Roma do primeiro século, haja visto que o próprio anjo deu a interpretação ao apóstolo dizendo que as “sete cabeças” são “sete montes” (v. 9), uma óbvia referência aos sete montes em que Roma está edificada.
O segundo simbolismo, diz o anjo, é que as “sete cabeças” também referem-se a “sete reis” (v. 10). Outro alerta aqui é não tomar o termo “reis” como se referindo exclusivamente a indivíduos. Ao compararmos com Daniel 7, que apresenta elementos muito parecidos com os da besta de Ap 17, podemos concluir que o profeta veterotestamentário aplica “a sua besta multiracial” aos impérios mais expressivos e opressivos daqueles tempos, a saber, a Babilônia, a Assíria, o império greco-macedônio e Roma. Assim, as “sete cabeças” que compõem a besta descrita por João não deixa possibilidade de serem interpretadas da maneira dispensacionalista.
Em seguida, no v. 10, é dito que, desses reis (lê-se reinos ou imperios), “cinco já cairam”, ou seja, uma provável referência aos antigos impérios os quais citei anteriormente. Seguindo no texto, lemos que “um existe” e, se João está falando de impérios, esta expressão só pode estar se referindo a Roma do primeiro século e NÃO A UM INDIVÍDUO DO SÉCULO XXI, como querem os dispensacionalistas.
Por fim, diz-se do último “rei” que ele “ainda não é vindo” (v. 10). Sem entrar em maiores detalhes, dessa sentença pode-se concluir a vinda de um futuro império anticristão (encabeçado pelo anticristo, segundo outras passagens das Escrituras), mas graças a Deus deve permancer por “um pouco de tempo” (v. 10).
Podem haver pequenas variações quanto a interpretação proposta acima, mas definitivamente o papado atual não tem nada a ver com o que João tinha em mente, muito menos a pessoa de Bento XVI. O ex-Papa deve estar com a orelha vermelha, coitado. E vocês dispensacionalistas, deviam se envergonhar por expor tanto um senhor de oitenta e tantos anos.
Obs: Não! Lançar o BTCast 44 sobre ressurreição horas antes do anúncio sobre a saída do Papa não foi profético. Por que? Bem, pra sua curiosidade, existe uma teoria sobre a ressurreição de João Paulo II.
Sem mais.