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Muito bem (3x), o seu podcast semanal de teologia está no ar. Neste episódio Bibo recebe as professoras Fran Ziel e Letícia Arnold para juntos viajarem pela história da música sacra e perceberem a mudança que a reforma de Lutero fez nessa arte.
Que papel a música ocupou ao longo da história da igreja? Por que essa arte era restrita aos homens? Como a reforma de Lutero afetou a música na igreja? Como ele utilizou a música na liturgia do culto? Lutero ouvia música do mundo? Essas e demais perguntas respondidas nessa verdadeira aula sobre a história da música sacra!
O podcast cristão do Bibotalk tem a missão de ensinar teologia em áudio para ver o crescimento bíblico-teológico da igreja brasileira. Com os especiais da Reforma Protestante procura tornar essa história viva nos dias de hoje.
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Sei não, mas acho que vai ser “tretálgico”!!
Hehehe
Até mais!! Logo logo comento mais algumas coisa!!
Paz
Sobre o canto gregoriano, então:
S. Gregório I – que a História cognominou de «S. Gregório Magno» – nasceu em Roma em 542, tendo ocupado a Cátedra de S. Pedro entre 591 e 604.
S. Gregório foi admiravelmente preparado para a sua obra musical, pela sua educação de nobre Romano, pela sua vocação Monástica, em que um dos principais serviços foi, precisamente, a organização da Liturgia, enfim, pelo seu génio musical. Segundo consta, S. Gregório teria composto, ele próprio (ou mandado compor) um certo número de peças, mas a sua principal ação foi, sobretudo:
1. colher, seleccionar, ordenar as peças e dar a cada uma o seu lugar no ciclo Litúrgico, para formar o repertório que constituiu o «Antifonário»;
2. reformar e levar à perfeição os cantos que se encontravam em uso;
3. fundar a «Schola Cantorum», escola superior de Música Sacra” (Chanoîne Coudray).
Foi desta fundação que nasceu a chamada Escola Romana, e foi devido à importância da obra realizada por S. Gregório Magno que o canto Litúrgico da Cristandade Latina se chamou «Canto Gregoriano».
Este canto espalhou-se por Inglaterra e, especialmente, em França (Escola Galicana), com Pepino o Breve e Carlos Magno: no reinado deste último, os diáconos Petrus e Romanus, enviados pelo Papa Adriano, fundaram as duas célebres Escolas de Metz e St. Gall. Havia também a Escola Ambrosiana (que já existia antes de S. Gregório Magno) e a Escola Mozárabe (sobre esta parte da História – respeitante à obra de S. Gregório Magno – têem interesse os artigos do Rev. P. Froger, O.S.B., in: «Musique et Liturgie», N.ºs 15, 18 ss, 1950.
Porque esta grande importância?
“Liturgia é a ação sacerdotal de Jesus Cristo, continuada na Igreja e pela Igreja sob a ação do Espírito Santo, por meio da qual ‘atualiza’ a sua obra salvadora através de sinais eficazes, dando assim um culto perfeito a Deus e comunicando aos homens a salvação” – na definição de Ismael Fernández.
Na liturgia da Igreja Católica todos os elementos litúrgicos são feitos, desenvolvidos e construídos única e exclusivamente para este fim. É assim com as vestes litúrgicas, com os paramentos e objetos utilizados na celebração da missa, e não poderia ser diferente com o canto.
Assim, o canto gregoriano é o canto próprio da liturgia – até hoje. Não pode ser equiparado a outros estilos musicais utilizados nas celebrações (especialmente aqui na igreja latino-americana). Conforme diz o documento Sancrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II: “A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.”
Monsenhor Guido Marini procura lembrar que “a música sacra não pode ser entendida como expressão da pura subjetividade” já que “essas formas musicais”, ou seja, o gregoriano e a polifonia – “na sua santidade, bondade e universalidade – são precisamente as que traduzem o autêntico espírito litúrgico em notas, melodia e canto: encaminhando para a adoração do mistério celebrado; tornando-se musicada exegese da palavra de Deus”.
O objetivo do canto gregoriano é elevar a alma até Deus. Para tanto, era preciso evitar os sons e intervalos que fossem absorvidos pelos sentidos e traduzidos na forma de excitação corpórea. Em virtude disso também é que era proibida a participação de mulheres no canto, pois a voz feminina era de natureza sensual e excitante. O canto gregoriano transmite-nos retração, piedade, devoção, recolhimento e humildade. E ao mesmo tempo amplidão, o que caracteriza a visão teológica de então a respeito de Deus.
O uso do latim na liturgia e consequentemente, na música:
“O uso da Língua Latina é um claro e nobre indício de unidade e um eficaz antídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina.” (Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei)
De outra sorte, pergunto: é preciso que o povo entenda as palavras da Missa? Não! O que é preciso é entender a própria Missa! Todos entendemos todas as palavras da Missa? Claro que não. Há muitas passagens de altíssima teologia, que quase ninguém entende.
Mas isso não nos impede de colher frutos da Missa. Se o entendimento das palavras da Missa fosse necessário para crescer espiritualmente e para apreender os frutos da liturgia, então só doutores em teologia iriam à Missa, só eles se beneficiariam.
Muitos analfabetos, que nem sequer sabiam seu idioma direito, iam à Missa em latim e se santificavam na Idade Média, e até poucos anos. Por acaso, eles se afastaram da Igreja por não entenderem latim? Pelo contrário, se santificaram!
O latim, ademais, nos mostra a pertença a uma Igreja maior, universal, que fala a mesma língua.
“O Latim exprime de maneira palmar e sensível a unidade e a universalidade da Igreja.” (Papa João Paulo I, Discurso ao Clero Romano)
O próprio Concílio Vaticano II não aboliu o uso da língua latina em troca da língua vulgar na liturgia. Veja os seguintes parágrafos do texto do concílio “Sacrosanctum Concilium” que trata da liturgia (n.36):
“§ 1. Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular.
§ 2. Dado, porém, que não raramente o uso da língua vulgar pode revestir-se de grande utilidade para o povo, quer na administração dos sacramentos, quer em outras partes da Liturgia, poderá conceder-se à língua vernácula lugar mais amplo, especialmente nas leituras e admoestações, em algumas orações e cantos, segundo as normas estabelecidas para cada caso nos capítulos seguintes”.
Nós católicos não temos problemas com o Latim, muito pelo contrário. Sempre ouço pessoas de fora da igreja (e as vezes alguns católicos de IBGE) que reclamam – reclamam e criticam, por sinal, de algo que nem vivenciaram. Mas nunca vi um católico piedoso, devoto e praticante questionando o uso do latim, ao contrário, grande parte destes utilizam o latim até em suas orações pessoais.
Petter meu brother eu discordo muito desse comentário. E acho que São Paulo tbm:
1Co 14:7-9 NVI 7 Até no caso de coisas inanimadas que produzem sons, tais como a flauta ou a cítara, como alguém reconhecerá o que está sendo tocado, se os sons não forem distintos? 8 Além disso, se a trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha? 9 Assim acontece com vocês. Se não proferirem palavras compreensíveis com a língua, como alguém saberá o que está sendo dito? Vocês estarão simplesmente falando ao ar.
Aqui tem um princípio estabelecido. O culto ou missa deve ser feito de modo inteligível e com palavras que as pessoas compreendam. Como alguém vai entender a missa se não entende o que está sendo dito? ?
Então… Nesse ponto, não consigo concordar contigo. Embora ache linda a sonoridade do latim, quando tu perguntas “é preciso que o povo entenda as palavras da Missa? Não! O que é preciso é entender a própria Missa! Todos entendemos todas as palavras da Missa? Claro que não. Há muitas passagens de altíssima teologia, que quase ninguém entende.” …. Bem, eu acho que sim, o povo deve entender tudo que está sendo dito. Missa, ou culto, ou como for, é um momento de adoração comunitária. Momento onde a voz da congregação se une e, sem olhar para as diferenças que os separam no dia-a-dia, louvam juntos ao Deus que a todos criou. A alta teologia é necessária e admiro aqueles que dedicam suas vidas a entender e interpretar a Palavra de um modo que jamais vou compreender, mas no momento da missa/culto, toda a teologia, toda a Palavra, todo o som: tudo deve servir para glorificar ao Senhor. Se o padre/pastor sente que, em determinado momento, precisa fazer uso de uma linguagem teológica mais pesada, que também se disponha a explicar para a comunidade o que aquilo significa. Deixar a comunidade na ignorância, completa ou parcial, é tirar das pessoas a oportunidade de aprenderem mais e se aprofundarem em suas vidas de fé.
Paulo, em 1 Co 14, trata um pouco da questão dos dons. Quero me deter na questão dos dons de línguas, especificamente. O que ele escreve, ao meu ver, pode talvez ajudar a explicar melhor esse ponto de vista que coloquei acima. Pois bem, Paulo ali fala do uso de línguas estranhas nos cultos; ele não está falando do latim, é claro – embora que, para mim e para muitos que conheço, o latim é uma língua estranha, afinal não compreendemos. Fico com Paulo quando ele diz que “Porém nas reuniões da igreja prefiro dizer cinco palavras que possam ser entendidas, para assim ensinar os outros, do que dizer milhares de palavras em línguas estranhas” (1 Co 14.19). Quanto mais acessível e compreensível o evangelho, mais eficiente a pregação.
Sobre “ir pra fogueira” por causa de uma dissonância utilizada na composição e arranjo do canto litúrgico, não encontrei referências históricas de nenhum caso. Sabendo que a natureza da inquisição não era acusatória ou penalizadora, mas inquisitória e defensiva, com o objetivo então, não de condenar (ou matar), mas o contrário, salvar, converter e trazer o herege novamente para a ortodoxia, não faz absolutamente sentido algum que isto tenha acontecido.
Olá, Petter! Sobre a questão que tu comentas… Quando falei sobre isso na gravação, obviamente não entrei em pormenores porque não era o foco (afinal, o tema central é a relação de Lutero com a música), mas me referia a proibição da utilização do “trítono” – o “diabolus in musica” (sim, o diabo na música). Para quem não conhece, trata-se de um intervalo musical muito comum para nós atualmente (imagina fazer jazz, blues ou bossa nova sem trítonos!) e não nos causa grande incômodo, mas ele tem uma tensão entre as notas que, para os ouvidos medievais, soava tão terrivelmente que poderia ser razão de levar alguém à fogueira. Se quiser ler mais, este artigo tem algumas informações – http://mundoestranho.abril.com.br/cultura/o-que-e-o-som-do-diabo/. Posso procurar materiais bibliográficos também… Lembro que aprendi isso nas aulas de HIstória da Música na faculdade, e me marcou muito porque achei um absurdo! Enfim, de qualquer modo, a questão é verídica, sim. Que bom que os tempos mudaram!
Letícia, gostaria que trouxesse materiais bibliográficos sim. Seria excelente! Pois há nenhum registro, encíclica papal, artigo de direito canônico ou um mero documento da igreja que ateste que executar o intervalo de trítono era proibido.
É muito comum ouvir isto em estudos de música. Estudei licenciatura na UNIVALI, Campus de Itajaí e atualmente estudo piano no Conservatório de Música Popular, aqui em Itajaí também. Em ambos os locais ensinam isso. Mas a verdade é que não há comprovação histórica.
Na ata do Concílio de Trento (1545-1563), no qual encontramos reflexões sobre toda a prática religiosa até antão, há apenas um parágrafo bastante genérico que orienta, de maneira subjetiva, a evitar-se as práticas musicais que possam atrapalhar o culto, referindo-se mais em relação à polifonia com dezenas de vozes, que impedia a boa compreensão do texto, do que com questões técnicas e teóricas. Aí também não há absolutamente nada contra o trítono.
Há inclusive registros do uso do trítono em composições melódicas de Hildegard von Bingen (1098-1179) e de Leonin e Perotin. Infelizmente este é mais um mito propagandista anti-catolicismo. É inacreditável que muitos professores afirmem isso livremente sem qualquer comprovação histórica e como é comum!
Beleza! Confesso que nunca fui procurar um documento-fonte, da própria Igreja, que testifique esse fato. Não quero crer que tantos livros de história da música e professores de alto nível atestem essa informação apenas para manchar a imagem da Igreja Católica. Parece-me um pouco com “teoria da conspiração”, hehe… De qualquer forma, depois de certo período, o trítono passou a ser aceito e amplamente utilizado, com regras específicas (relativadas ao uso de suspensões e resoluções). Sobre as composições: poderias mencionar quais seriam? De preferência, com momentos onde o trítono aparece no sentido vertical (harmonia), e não horizontal (melodia)…
OI Letícia! Então, infelizmente muitas coisas que sabemos da Igreja Católica (que aprendemos em nossas escolas tradicionais) é completamente distorcida. Especialmente quando se trata de Inquisição e Cruzadas. Infelizmente propagandas anti-religiosa iluminista e anti-católica por parte de alguns protestantes.
Por natureza a inquisição jamais poderia condenar alguém por tal, primeiramente porque não há documentos eclesiásticos com tal proibição, segundamente porque a inquisição tratava os crimes contra a fé – heresias. Considerando a hipótese de que realmente fosse proibido (o que não era), mesmo a desobediência do compositor jamais o condenaria à pena capital, isto porque não se tratava de negar um artigo de fé da igreja, mas simplesmente uma questão de desobediência puramente pastoral, compreende?
Simplesmente não existem registros históricos de compositores mortos por este motivo. Nenhum historiador da igreja ou pesquisador da Inquisição conseguiria relatar e comprovar tal acusação.
Sobre as composições, vou pesquisar sobre algo polifônico. Enquanto isso, podemos ver um exemplo melódico aqui: http://www.hildegard-society.org/2014/11/spiritus-sanctus-vivificans-antiphon.html
Então, fui procurar algumas coisas sobre o trítono e essa questão toda. Alguns fatos: era um intervalo evitado nos tempos medievais por suas qualidades dissonantes, e a primeira proibição explícita nos remete a Guido D’Arezzo com o desenvolvimento do sistema hexacordal.
O nome “diabolus in musica” tem sido usado pelo menos desde o séc. XVIII (e para descrever outros intervalos, além do trítono). Andreas Werckmeister usou o termo em 1702, Johann Fux em 1725 e G. P. Telemann (meu compositor favorito, hehe) em 1733, comentando que os antigos então chamavam o intervalo de “diabolus in musica”. O mesmo fez Johann Mattheson, em 1739. Esses dois autores falam dessa terminologia como algo já utilizado no passado, porém não há consenso que, de fato, na Idade Média era assim – embora muitos autores afirmem que sim, como Denis Arnold, no “New Oxford Companion to Music”.
Nos períodos barroco e clássico, o uso do trítono era restrito, utilizado em locais específicos para provocar a tensão necessária que o sistema tonal exige. Apenas a partir do período Romântico é que seu uso tornou-se mais livre.
A partir disso, temos duas hipóteses:
1) O “diabolus in musica” e toda a questão da proibição por parte da Igreja é lenda (o que se comprova por falta de documentos da própria igreja que confirmem tal afirmação);
2) O “diabolus in musica” e toda a questão da proibição por parte da Igreja é real (o que se comprova nos livros de história da música – como, por exemplo, o “História Universal da Música”, de Roland de Candé, um historiador de música de gabarito);
Confesso que estou tentada a continuar pesquisando. Importante seria detectar em qual momento que essa afirmação foi feita pela primeira vez e procurara a fonte do autor; claro, isso exige muito tempo e mobilização. Seria um excelente tema para mestrado, ainda mais se pesquisado por um cristão!
Textão mesmo! Rsrsrsrs….muito esclarecedor, apesar de eu discordar (como evangélico) em absoluto qnt a qualquer celebração de culto a Deus numa língua que não se entenda (incluindo a declaração do Papa Pio XII). A meu ver perde-se a finalidade de edificaçao do corpo (que o próprio Paulo defendeu com relação às línguas estranhas). Creio que muita, mas muita gente mesmo, ao longo da história tenha deixado de entender um pouco que seja do evangelho porque simplesmente não entendia o que se era pregado. Mas é minha opinião.
Que aula! Um dos melhores que já ouvi. Quem diria que iria ouvir uma aula de história da música sacra no btcast. Espetacular! Espero outros com o mesmo assunto.
Obrigada pela contribuição. Só uma pequena correção: o termo é italiano, logo o singular é “castrato” e o plural, “castrati”, e não “castrates”.
Obrigado pela correção. 🙂
Ótimo panorama da história da música. Parabéns, pessoal. Chamem a Leticia e Francieli pra gravar mais vezes falando de música.
Olá Meninos e Meninas! Primeiramente é sempre bom ouvir participações femininas. 🙂
Algumas considerações que acho que acrescentam…
Sobre Lutero e a música
Acho que não dá pra deixar de lado que os mosteiros agostinianos tem, desde sempre, como base de sua espiritualidade o louvor. Eles cantam, ou ao menos recitam, em comunidade os Salmos e Hinos de manhã, de tarde e de noite. Na vida monacal, ou conventual, este parar tudo para louvar dá o ritmo do dia. Nós, padres diocesanos, fazemos experiência semelhante no tempo de seminário, tive um reitor que presava pelo canto gregoriano nas orações e para quem gostava de cantar era uma maravilha, para quem não, era uma tortura. Acredito que se para Lutero a participação na comunidade monástica cantante era algo prazeroso, com certeza, isso influenciou no seu estímulo em fazer a sua comunidade reformada cantar.
Sobre o Latim e Gregório
Essa questão da língua é complicada… Sempre que alguém tenta popularizar a Palavra e a Liturgia tem quem apoie e quem torça o nariz. Foi assim quando surgiu a Septuaginta, foi assim quando surgiu a Vulgata (a bíblia de Jerônimo era uma versão popular para um tempo em que os cristãos não sabiam mais ler grego e hebraico), foi assim com a Reforma. Quando Gregório estabelece o latim como língua oficial para os cultos era mais por um senso de unidade do que por outra coisa.
Acho complicado defender uma língua como mais sacra que outra e exigir que os fiéis a usem exclusivamente. Mas isso ainda hoje é uma realidade: Católicos conservadores (latim), Cristãos Ortodoxos (grego), Cristãos Caldeus (aramaico), Judeus (hebraico), Islões (árabe). Qual língua é mais sagrada?
Por outro lado, tem quem defendia no passado (e ainda hoje) que o latim era uma língua mais precisa do que as línguas faladas no cotidiano, por isso, mais adequada para a teologia e sobretudo para a liturgia. Assim, era mais prático para a transmissão de conhecimento produzir tudo numa língua só do que ter várias traduções. A prática da produção científica em latim perdurou ainda por muito tempo depois da Reforma (Descartes, Galileu, mesmo em ambientes não eclesiásticos continuavam a escrever em latim). Sem dúvida para Lutero o latim era um problema muito maior para a evangelização do que pra outras partes da Europa, já que o alemão é de outra matriz, anglo-saxã, penso que as versões para a língua do povo, deveria começar por ali mesmo.
Como curiosidade é interessante saber que existem linguistas, em 2016, que propõe que o latim deveria ser a língua oficial da União Européia. Já outros propõe que a língua indo-europeia restaurada deveria ser esta língua comum por aqui. E tem quem diz que o Esperanto é essa língua que vai salvar o mundo da falha de comunicação. kkkk
Sobre a participação das mulheres (juro que tô acabando. rs)
De fato, isso é um ponto complicado na história da igreja. A base bíblica para que as mulheres não possam assumir ministérios litúrgicos é a “impureza feminina” (Lv 15, 19-30), que eu particularmente acho que é superada. Não sei, mas me parece que Gregório não era favorável à exclusão das mulheres. Me parece que esta prática foi se agravando ao longo dos anos, conforme as estruturas foram se enrijecendo. Enfim, o cara, tentou criar unidade e simplicidade, mas acabou dando base pra segregação.
Como foi muito bem dito, com o passar do tempo a música sacra foi se apartando do mundo, sempre com a pretensão de oferecer o melhor pra Deus… Acho que além do que vocês disseram, um grande pecado também foi o banimento dos instrumentos de percussão, que são instrumentos rituais por excelência pois marcam ritmo. Agora que as mulheres foram totalmente proibidas de cantar, não é bem assim. Primeiro que nos mosteiros femininos os louvores eram entoados pelas monjas tal qual nos mosteiros masculinos. Segundo que acho complicado dizer que o canto gregoriano é prevalentemente masculino, devido sua simplicidade e fácil transposição. Acho que no canto polifônico é mais fácil perceber esta segregação.
Outra coisa que vejo de maneira diferente das meninas é que o canto não era coisa dos “padres” era coisa dos “religiosos”. Vejam, na Idade Média (mas ainda hoje) além de bispos e padres existiam frades, freiras, madres, monges, monjas, abades, abadesas (inclusive uma célebre foi Hildegarda de Bingen, musicista entre outras coisas). Sim, a igreja colocou o louvor como dever para os religiosos e religiosas, isto não significava que a assembléia dos fiéis não podia cantar, só quer dizer que ela não era obrigada. Com isso, não quero dizer que a coisa não tenha descambado para uma apatia, e que Lutero percebendo-a não tenha oferecido um remédio eficaz, só que afirmar que em todo lugar e durante toda a Idade Média o povo foi afastado do louvor acho um pouco demais.
Sobre os Castrati (Jesus, prometo só mais esse tópico e paro. rs)
Shame, shame, shame… Ninguém nunca vai me convencer que tal coisa pode ter tido um lado bom. argh. Mas é bom contextualizar também. Primeiro que a prática era mais antiga, provavelmente, que o cristianismo, só que na Idade Média ele foi atestada no Oriente, entrando no Ocidente somente por volta do século 16, ou seja, é mais uma daquelas maluquices que justificam que a sociedade européia precisava mesmo de uma Reforma. A castração dos meninos não era só para substituir as mulheres nos coros, mas para manter o “registro bianco”. Segundo os propositores da prática, os ‘Castrati’ alcançavam um timbre e uma potência vocal que as mulheres não poderiam alcançar (Só queria saber se primeiro eles se castravam antes de fazerem isso com os outros). Além disso, os ‘Castrati’ mais famosos renderam uma boa grana nos circuitos culturais das noites das grandes cidades. Como sempre, essas coisas tem mais a ver com vaidade, poder e dinheiro e as coisas de Deus viram mais uma desculpa para as atrocidades humanas…
Bem, me alonguei. me perdoem. Fran e Letícia vocês mandaram muito bem! Concordo totalmente com vocês que não deve haver distinção entre homem e mulher nas nossas Igrejas, que a assembleia deve tomar parte nos cantos e que Deus deve ser louvado em qualquer ritmo e estilo musical, em qualquer lugar e por todo ser que respira.
Abraço a todos e todas!
Olhaê… sensacional como sempre Padre. Abraço! Sua benção! ?
Comentário sensacional, que é um verdadeiro adendo ao que as meninas falaram. Um complemento de utilidade imensa. Valeu padre!
Bah, obrigada pelos complementos! De fato, na verdade eu concordo contigo quando dizes que “além de bispos e padres existiam frades, freiras, madres, monges, monjas, abades, abadesas (inclusive uma célebre foi Hildegarda de Bingen, musicista entre outras coisas). Sim, a igreja colocou o louvor como dever para os religiosos e religiosas, isto não significava que a assembléia dos fiéis não podia cantar, só quer dizer que ela não era obrigada.” Contudo, em termos de registros na história da música, prevalecem os compositores, cantores e músicos homens. Poucas mulheres conseguiram deixar uma marca que vencesse a força dos séculos, mesmo com todo o talento que tinham. Mozart tinha uma irmã que era prodígio, entretanto apenas o nome dele é conhecido em larga escala – e assim, tantas outras foram apagadas.
E a questão do povo todo ter sido afastado do louvor, foi em questão do rebuscamento das músicas cantadas. Com polifonias cada vez mais intrincadas e complexas, é quase impossível envolver a comunidade. Já é difícil cantar um arranjo original do Diante do Trono, imagina uma obra de Palestrina! hehehehe