O Mestre

O texto a seguir já teve uma parte publicada aqui no blog e faz parte das reflexões sobre os Dons Ministeriais, que você pode conferir aqui uma introdução. Esse texto também é parte do livro de Teologia Pastoral do curso da EPOS, detalhes http://www.ceeduc.org/. Vamos ao texto completo agora: MESTRES O ministério do mestre é […]



5 de julho de 2011 Bibotalk Reflexões
O texto a seguir já teve uma parte publicada aqui no blog e faz parte das reflexões sobre os Dons Ministeriais, que você pode conferir aqui uma introdução. Esse texto também é parte do livro de Teologia Pastoral do curso da EPOS, detalhes http://www.ceeduc.org/.
Vamos ao texto completo agora:
MESTRES
O ministério do mestre é tão importante no NT que é listado nas três listas dos ministérios (Rm 12.6-8; 1 Co 12.28 e Ef 4.11). Gee defende a ideia de que em Efésios o texto indica que o ministério de mestre muitas vezes se unia ao do pastor. Ele afirma:
Aos anciãos, que eram chamados para a supervisão pastoral das igrejas, exortava-se a que pastoreassem o “rebanho de Deus” (1 Pe 5:2); e desejava-se que tais homens fossem aptos “para ensinar” (1 Timóteo 3:2).[1]
Mesmo assim, o mestre podia ter um ministério itinerante. A Bíblia nos mostra o caso de Apolo (At 18.24ss), um homem que tinha grande eloquência para refutar judeus e provar pelas Escrituras que Jesus é o Cristo. Apolo viajava constantemente para ensinar e instruir os irmãos e irmãs na Palavra.
O mestre era encarregado de conservar, transmitir e interpretar as Escrituras e preservar a tradição apostólica. Hoje não deve ser diferente. O mestre é aquele que descortina textos bíblicos e os torna acessível a toda comunidade.[2] Essa tarefa só é possível se o indivíduo tiver o dom concedido por Cristo. Não basta saber algumas regras da didática e ter inclinação natural, tem que ter o chamado.
Quando a pessoa tem o ministério do ensino, ela soma e fortalece a comunidade. Por exemplo, o ministério de Apolo foi visto por Paulo como irrigador (1 Co 3.6). Aquilo que o apóstolo dos gentios plantou, foi preservado e cuidado por Apolo. Por isso, ser mestre no sentido bíblico não significa ter formação acadêmica, contudo, ela não pode ser desprezada, e inevitavelmente aquele que gosta de ensinar, gosta da companhia de bons livros. A igreja é extremamente edificada quando o indivíduo combina formação teológica, conhecimento bíblico e dependência divina (Paulo, Lutero, Stott, Lewis, Horton, só para citar alguns).
A obra do mestre é edificar o corpo de Cristo. Não com modismos e tradicionalismos, mas com a Palavra. Em tempos de desvios gritantes, esse dom ministerial se faz urgente em cada comunidade de fé. Muitos hoje em dia afirmam ter tido uma nova “revelação” (geralmente são os que negam a formação acadêmica), uma nova interpretação bíblica nunca antes proferida. Isso é muito perigoso.
A interpretação que visa a originalidade, ou que prospera com ela, usualmente pode ser atribuída ao orgulho (uma tentativa de “ser mais sábio” do que o resto do mundo), ao falso entendimento da espiritualidade (segundo o qual a Bíblia está repleta de verdades profundas que estão esperando para serem escavadas pela pessoa espiritualmente sensível, com discernimento especial). Ou a interesses escusos (a necessidade de apoiar um preconceito teológico, especialmente ao tratar de textos que, segundo parece, vão contra aquele preconceito) […] O que queremos dizer mesmo é que a originalidade não é o alvo da nossa tarefa.[3]

A função do verdadeiro mestre não é a originalidade, descobrir aquilo que ninguém descobriu, mas clarificar o que foi preservado nas Escrituras e expor o sentido claro do texto. Dessa forma a comunidade cresce solidamente e consegue resistir as sutilezas heréticas que sempre de novo tentam se infiltrar na Igreja. Basta estudar um pouco a história da Igreja para ver a importância de mestres como Irineu de Lião, que preservou a tradição apostólica com zelo e força contra os gnósticos, seita que tentou transformar o cristianismo em mais uma filosofia de vida.


[1] GEE, 1987, p. 56.
[2] KALDEWAY, 2005, p. 32.
[3] FEE, G. D.; STUART, D. Entendes  o que lês?. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 13-14.