Igreja em tempos de epidemias

Por Silvana Oliveira, médica geriatra. No momento diversos grupos de protestantes em suas redes de contatos tem emitido alertas, disseminado informação  e orientado pessoas sobre cuidados com a disseminação da doença causada pelo Coronavírus. Mesmo com todo o cuidado e boa intenção, nossos grupos das igrejas fervilham de mensagens e  notícias que ora subestimam o […]



12 de março de 2020 Bibotalk Textos

Por Silvana Oliveira, médica geriatra.

No momento diversos grupos de protestantes em suas redes de contatos tem emitido alertas, disseminado informação  e orientado pessoas sobre cuidados com a disseminação da doença causada pelo Coronavírus. Mesmo com todo o cuidado e boa intenção, nossos grupos das igrejas fervilham de mensagens e  notícias que ora subestimam o vírus, ora criam pânico, até trazendo teorias conspiratórias. Nesse caso, como  lideres e discípulos devem agir, de forma a sinalizar o Reino diante de epidemias como a Covid-19, com prática, efetividade e entrega?

 Os coronavírus são a segunda causa de resfriado comum. Aquele simples, que todos podemos ter. Conhecidos há muito tempo, só tivemos problemas graves com eles a partir de 2002. O coronavírus da vez foi batizado como SARSCov2 e a doença causada por ele,  Covid-19, e começando a circular causando doença há poucos meses.

Em 31 de dezembro de 2019, a República Popular da China notificou a Organização Mundial de Saúde pela primeira vez sobre os casos. Ao todo, temos hoje 114 países atingidos, um total de 134.095 casos, e mais de 5mil mortes (maioria na China).  O primeiro caso no Brasil foi diagnosticado em 25 de fevereiro, em um homem paulistano que regressava de viagem à Itália.  Desde então tivemos dezenas de casos entre viajantes e seus contatos diretos até que, em 12 de março, pela primeira vez houve alguém doente sem saber exatamente o momento do contágio. Isso sinaliza que o número de casos vai aumentar bastante nos próximos dias. O estado mais afetado ainda é São Paulo, e ainda temos locais, como Santa Catarina e alguns estados do norte do Brasil, sem casos confirmados.

O vírus se transmite apenas de pessoa para pessoa (não se pode pegar a doença ou passá-la para animais), através de gotículas de saliva ou de escarro quando espirramos, tossimos ou assoamos o nariz. Essas secreções se depositam sobre objetos como móveis e telefones celulares; mãos  tocam esses objetos, depois indo para boca, nariz, olhos. É desse modo que  sadios se tornam doentes, sendo as medidas pessoais  nossa principal arma contra a Covid-19.

A  maioria dos doentes passa apenas por um resfriado leve. A minoria, 1 a cada 5 pessoas, vai precisar de um hospital, e a cada 100 enfermos, menos de 4 morrem (3,4%) .  O grande problema é que o risco  aumenta com a idade. Enquanto nenhuma criança abaixo de 9 anos morreu,  pessoas  entre  70 e 79 anos tem 8% de risco de morrer, e a cada 100 idosos com mais de 80 anos doentes, cerca de 15 morreram. Também pessoas com doenças do coração ou pulmão, diabéticos e hipertensos morrem mais que os sadios.

A figura abaixo explica bem como o vírus se espalha e quais medidas devem ser tomadas para sua prevenção. Se quiser ver melhor clique aqui.

As igrejas são espaços de convivência, e um ponto de interesse neste cenário. Algumas notícias mostram que templos religiosos foram pontos de contágio de muitas pessoas ao mesmo tempo. Como exemplos  deixo um caso na Coréia do Sul (clique aqui), um da França (clique aqui) e outro nos EUA (clique aqui). Diante disso, é obrigatório que medidas práticas sejam tomadas pela igreja, visando impedir o contágio interno, educar para se evitar a disseminação, e cuidar do coração de sua membresia.

Medidas práticas sugeridas:

  • Líderes devem atentar aos informes do Ministério da Saúde e órgãos locais. As mudanças são diárias ou ao longo do dia. Em locais com grande número de casos, as autoridades podem impor quarentena, e nesse caso, reuniões em casas ou no local de culto precisam ser canceladas.
  • Se não houver o cancelamento, é fundamental que na rotina da igreja local:
    • Pessoas com qualquer sintoma respiratório ou que se sintam doentes, não devem frequentar cultos e reuniões. Lembrar que  principalmente jovens  tem sintomas leves, que se confundem com uma crise de rinite, podendo espalhar o vírus por aí.
    • Idosos devem evitar aglomerações, e não devem ser visitados em hipótese alguma por pessoas com dúvida sobre sua saúde ou que tenham viajado recentemente. Isso inclui pastores, diáconos, líderes de organizações, professores de escola bíblica. É razoável avaliar a substituição deles por jovens aptos saudáveis, a fim de poupá-los.
    • Locais de reunião devem ter acesso a álcool gel, lavagem das mãos, sabão líquido, lenços descartáveis.
    • Deve-se evitar durante os cultos, momentos de abraços e aperto de mãos intencionais ( o famoso “abrace o irmão que está ao seu lado…”). As pessoas idealmente devem ficar a 1 metro de distância de quem não se sente bem, então apenas acenos nessa fase são uma medida segura e adequada.
    • Material de ceia do Senhor não deve ser compartilhado ou tocado por várias mãos sem higienização. Usar copos individuais, guardanapos. Higienizar mãos antes da cerimônia.
  • Pessoas devem ser orientadas a buscar atendimento em unidades básicas de saúde, caso apresentem sintomas simples da doença. Hospitais só serão úteis àqueles com falta de ar e sintomas mais graves (Ex: febre alta, queda de pressão arterial). Deve ir de máscara cirúrgica e em transporte particular, e os acompanhantes (familiares, irmãos) também devem se proteger no percurso, informando no destino, calmamente, o motivo da ida.
  • Informação educativa deve ser compartilhada, reforçando as atitudes de prevenção:
    • Lavagem correta e frequente das mãos, antes e após tocar em pessoas, objetos, alimentos, estar em locais públicos, ao longo do dia.
    • Evitar levar a mão não limpa ao rosto, para ajustar óculos, tocar olhos, boca, nariz.
    • Carregar consigo e usar sempre álcool gel entre lavagens das mãos.
    • Higienizar telefone celular, maçanetas, corrimões, bíblias, com frequência, com solução alcoólica.
    • Ao tossir/espirrar, cobrir boca e nariz com região interna do cotovelo, ou lenço descartável.
    • Participar da campanha da prevenção à gripe, que começa em 23 de março.
    • Evitar viagens sem necessidade extrema.
  • É importante direcionar a congregação ao que realmente importa, pois é comum que distratores como problemas do cotidiano abalem nosso relacionamento com Deus, ou roubem nosso tempo de qualidade com Ele. Precisamos orar mais ainda ao Senhor, e podemos trocar isso por papos em grupos, alarmismos. Deixo algumas sugestões, usando como base o Salmo 112 (NVT):

 Louvado seja o Senhor! Como é feliz aquele que teme o Senhor e tem prazer em obedecer a seus mandamentos!
Seus filhos serão bem-sucedidos em toda a terra;
uma geração inteira de justos será abençoada.
Em sua casa, haverá riqueza e prosperidade,
e suas boas ações permanecerão para sempre.
A luz brilha na escuridão para o justo;
ele é compassivo, misericordioso e íntegro.
Feliz é o que empresta com generosidade
e conduz seus negócios honestamente.
Ele não será abalado;
sua lembrança durará por muito tempo.
Não teme más notícias;
confia plenamente no cuidado do Senhor.
É confiante e destemido;
olha com triunfo para seus inimigos.
Compartilha generosamente com os pobres,
e seus atos de justiça serão lembrados para sempre;
ele terá influência e honra.
10 O perverso verá isso e ficará furioso,
rangerá os dentes de raiva e desaparecerá;
seus desejos serão frustrados.

  • Reforçar a postura grata a Deus pelo que nos é dado, visto sermos não merecedores, indignos, alcançados pela Graça, felizes em Deus.
  • Preparar de antemão a congregação para a disseminação do vírus, reforçar orientações diariamente e enviar textos bíblicos devocionais relacionados à segurança em Deus.
  • Principalmente para aqueles que tiverem restrições em casa, ter uma vida de consagração redobrada a Deus, utilizando o tempo de forma produtiva, inclusive com videoconferências substituindos as reuniões presenciais.
  • Ter uma atitude generosa e de socorro aos mais necessitados
  • Inculcar a mentalidade de mensageiros da Paz e da Verdade, evitando compartilhar coisas que não sejam edificantes ou confiáveis entre os irmãos, amigos, familiares.

Por fim, sugerimos o reforço da oração comunitária por questões específicas, como:

  • Pela intervenção divina interrompendo a disseminação do coronavírus.(1Jo 5 14-15)
  • Pelos doentes, que encontrem acesso a cuidado e tratamento. (Sl 46.1)
  • Pela saúde e disposição dos profissionais de saúde que cuidam dos enfermos. (Sl 107.28)
  • Pelo consolo das famílias em luto por conta dos milhares de mortos na epidemia. (Fp 4.6-7)
  • Por sabedoria e sustento aos pastores e líderes das igrejas pelo mundo durante esse tempo. (Tg 5.14-16)
  • Para que o corpo de Cristo em toda a terra tenha forças a fim de cumprir seu papel no mundo. (1Co 12.24-27)
  • Pelas autoridades responsáveis pelas decisões. (Jr 29.7)
  • Pelas pessoas que sofrem consequências variadas em decorrência do vírus, que precisam se levantar a cada dia em tempos de incerteza. (Jr 29.11-12)
  • Pelos nossos parceiros de missão em todo o mundo, vários deles atuando em áreas onde há forte presença da Covid-19, além de enfrentarem escassez de recursos financeiros e de toda sorte. (2Co4.8-10)
  • Pela realidade atual dos locais onde pessoas vivem e morrem sem conhecer o Senhor, que Ele nos mostre como sermos mais usados a fim de fazer Seu nome mais conhecido. (2Pe3.9)

Referências: