Deus odeia o pecado, mas ama e odeia o pecador

Autor: Paulo Cesar Antunes É comum em debates os envolvidos tomarem extremos opostos. Aconteceu nos grandes embates teológicos da história: Agostinho versus Pelágio e Lutero versus Erasmo. Um caso mais moderno e popular diz respeito ao cliché “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”. Em resposta, alguns tomam o lado oposto: “Deus odeia o […]



23 de outubro de 2015 Bibotalk Reflexões

Autor: Paulo Cesar Antunes

É comum em debates os envolvidos tomarem extremos opostos. Aconteceu nos grandes embates teológicos da história: Agostinho versus Pelágio e Lutero versus Erasmo.

Um caso mais moderno e popular diz respeito ao cliché “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”. Em resposta, alguns tomam o lado oposto: “Deus odeia o pecado e o pecador!”

Há verdades e mentiras de ambos os lados. Eles estão certos no que afirmam e errados quando sugerem que Deus sente, exclusivamente, amor ou ódio pelo pecador.

Ambas as posições se apoiam em versículos bíblicos, que, se lidos isoladamente, parecem invalidar a posição oposta.

A verdade é que Deus odeia o pecado, mas ama – e odeia! – o pecador. A ideia pode parecer ininteligível a alguns, mas ela somente nos mostra o quanto, em muitos aspectos, somos diferentes de Deus.

Após a citação de inúmeras escrituras, A. H. Strong diz,

“Essas passagens mostram que Deus ama as pessoas que ele detesta. Ele detesta o pecado, mas ama o pecador; ele tanto ama quanto detesta o pecador; o detesta quando ele é um vivo e voluntário antagonista da verdade e da santidade; o ama quando ele é uma criatura capaz do bem e arruinado pela sua transgressão.” Teologia Sistemática, Vol. 1, pp. 510, 511.

D. A. Carson diz o mesmo,

“Não há nada intrinsecamente impossível sobre a ira e o amor serem levados simultaneamente ao mesmo indivíduo ou povo. Deus, em suas perfeições, certamente fica irado contra os rebeldes que, a despeito de levarem sua imagem, o ofendem; não obstante, mesmo, em suas perfeições, o Senhor é ser amável para os rebeldes que levam a sua imagem, porque ele é este tipo de Deus.” A Difícil Doutrina do Amor de Deus, pp. 73, 74

A maior prova desta surpreendente verdade temos na morte de Cristo. Nela, Deus mostrou tanto o seu ódio pelo pecado quanto o seu amor e ódio pelos pecadores.

Referências bíblicas:

Deus sente amor pelos pecadores:

Sl 145:9 – O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas obras.

Jn 4:11 – E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem discernir entre a sua mão direita e a esquerda, e também muito gado?

Mt 5:44-48 – Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. […] Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.

Jo 3:16 – Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

1Jo 4:8 – Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.

Deus sente ódio pelos pecadores:

Lv 20:23 – E não andareis nos costumes dos povos que eu expulso de diante de vós; porque eles fizeram todas estas coisas, e eu os abominei.

Dt 25:16 – Porque é abominável ao Senhor teu Deus todo aquele que faz tais coisas, todo aquele que pratica a injustiça.

Sl 5:5 – Os arrogantes não subsistirão diante dos teus olhos; detestas a todos os que praticam a maldade.

Sl 11:5 – O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência.

Pv 11:20 – Abominação para o Senhor são os perversos de coração; mas os que são perfeitos em seu caminho são o seu deleite.

Pv 16:5 – Todo homem arrogante é abominação ao Senhor; certamente não ficará impune.

Pv 17:15 – O que justifica o ímpio, e o que condena o justo, são abomináveis ao Senhor, tanto um como o outro.

Deus sente amor e ódio pelos pecadores:

A escolha de Israel foi motivada pelo amor (Dt 7.8), mas diante dos seus pecados, “Deus se indignou, e sobremodo abominou a Israel”, Sl 78:59. Quando a nação havia acabado de sentir os horrores de estar debaixo da ira de Deus, ela escuta dele que “com amor eterno te amei”, Jr 31.3, o que significa que, mesmo quando debaixo de sua ira, Deus nunca havia deixado de amar Israel.

As outras nações eram abominação ao Senhor, e por isso ele as expulsou de diante de Israel, mas quando um estrangeiro se encontrava no meio desse povo, ele devia ser amado, uma vez que “o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas” igualmente “ama o estrangeiro”, Dt 10.17-18.

Mesmo os “vasos da ira, preparados para a perdição”, Deus suporta “com muita longanimidade” (Rm 9.17), ou seja, dando-lhes oportunidade de arrependimento.

Os judeus incrédulos, distintos do “remanescente segundo a eleição da graça”, Rm 11.5, a quem “Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até o dia de hoje” (Rm 11.8) são os mesmos que, “quanto à eleição, [são] amados por causa dos pais” (Rm 11.28).