Como Deus é chamado no NT?

Eu recebi a seguinte pergunta de um ouvinte, segue na íntegra: “No AT o nome de Deus é escrito YHVH, de fato é o nome de Deus. João Ferreira de Almeida traduz (troca) a palavra por SENHOR enquanto a Tradução do Novo Mundo traduz a palavra por Jeová… Até aí tudo bem. Mas, no NT […]



16 de abril de 2012 Bibotalk Reflexões

Eu recebi a seguinte pergunta de um ouvinte, segue na íntegra:

“No AT o nome de Deus é escrito YHVH, de fato é o nome de Deus. João Ferreira de Almeida traduz (troca) a palavra por SENHOR enquanto a Tradução do Novo Mundo traduz a palavra por Jeová… Até aí tudo bem. Mas, no NT JFA continua usando o SENHOR e NM continua usando “Jeová”, mas, sei que o tetragrama só é usado no AT, Deus é chamado de quê no Novo Testamento, qual é a palavra usada e qual seria a tradução que chega mais próximo?”

Muito boa a pergunta, vamos tentar uma resposta:

Deus no NT é chamado simplesmente de Deus (Theós gr.). Por quê? Na fé israelita primitiva não se negava a existência de outros deuses, veja o primeiro mandamento, ele não nega, só conclama para a adoração exclusiva a Javé. Logo, aceitando a ideia de outros deuses, é necessário diferenciar e distinguir o Deus (El heb.) de Israel, Javé. No decorrer da sua compreensão acerca de Deus, Israel aniquilou a existência de outros deuses (Is 45 etc.). Bultmann diz que no monoteísmo judaico do tempo de Jesus “o nome próprio de Deus, Javé, se perdeu, pois ele só fazia sentido enquanto Deus aparecia como sujeito entre outros, sendo necessário diferenciá-lo dos demais por meio de um nome determinado”.[1]

Na tradução grega do AT, a Septuaginta (LXX) o tetragrama YHVH (Iahweh)[2] é traduzido por Kyrios (Senhor), por isso JFA traduz tanto o tetragrama do AT como Kyrios do NT com SENHOR. Mas tem algo importante nesse título Kyrios, pois ele é atribuído a Jesus Cristo no NT, logo, o nome de Deus na aliança do AT é ocupado pelo Cristo no NT. Como diz Ladd: “O Jesus exaltado ocupa o papel do próprio Deus no governo do mundo”.[3] No NT Deus também é chamado de Pai, como diz Packer: “Pai é o nome cristão para Deus”.

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Algumas notas sobre o nome de Deus revelado a Moisés – Iahweh/Javé

Segundo a concepção antiga, o nome não constituía apenas som e fumaça, mas entre o nome e o seu portador subsistia uma mútua relação que denotava a sua característica natural, isto é, o nome contém uma expressão da natureza do seu portador ou, pelo menos, de algo do seu potencial inerente. Deus revela seu nome como um alento num momento de crise e desespero. Deus Revelou seu nome para Moisés num momento de extrema dificuldade.[4]

O nome de Deus, Iahweh, assemelha-se à expressão Eu sou em hebraico (Ex 3.14), ou seja, relaciona-se com o verbo hebraico “ser”, verbo que não significa simplesmente “existir”, mas antes “estar ativamente presente”, tem o sentido de uma presença relacional e atuante. Deus dá a conhecer o seu nome ao povo, pretendendo lhes revelar seu caráter mais íntimo. Iahweh é o Deus ativamente presente entre o seu povo, nome revelado no momento em que o povo mais precisava (Ex 3; 33.19).

Então, a tradução mais próxima do sentido do nome de Deus não seria EU SOU O QUE SOU, mas EU ESTAREI PRESENTE QUANDO VOCÊS PRECISAREM, isto é, me transformarei naquilo que precisam! Pois “Ser” no AT não significa um ser em si absoluto, mas antes, um “estar aí/presente/atuante” ou até um “revelar-se como auxiliador”. “Resumindo, a interpretação mais simples é […] de acordo com Ex 3.14: ele ‘é/se mostra/atua’”[5]

Jesus Cristo identifica-se com o nome em Jo 8.59, Ele é o próprio Eu Sou encarnado! Deus vem ao encontro da humanidade em Cristo, se revelando e se mostrando atuante como nunca antes na história da salvação!

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[1] BULTMANN, R. Jesus. São Paulo: Teológica, 2005. p. 144.
[2] Jeová ou Javé, são a latinização de Iahweh, que é o tetragrama vocalizado (YHWH).
[3] LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: 2003. p. 575.
[4] ALEXANDER, D. P. (org.) O mundo da Bíblia. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1985.
[5] SCHMIDT, Werner H. A fé do Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2004. p. 104.