Há tempos venho pensando sobre ofertas, dízimos, bênção de Deus, lei da semeadura e o que tudo isso tem a ver com a teologia da prosperidade. Creio, a partir da Bíblia, que Deus abençoa financeiramente seu povo. Defendo a prática dos dízimos e ofertas para a manutenção da igreja local e seus projetos. E acredito que o Senhor olha com bons olhos o coração grato.
Porém, a coisa começa a ficar estranha quando esses elementos deixam de ser uma parte do culto e do viver cristão para se tornarem o centro de um discurso e liturgia, no afã de ludibriar o povo e prometer bênçãos sem fim para o ofertante. Na minha opinião isso é teologia da prosperidade, e leva a maioria das pessoas a ofertarem pelos motivos errados. A oferta deixa de ser uma manifestação de gratidão para se tornar uma moeda de troca.
Constantemente os arautos da prosperidade se utilizam de 2Co 8-9 principalmente os versículos 6-11 do capítulo 9 para embasar sua mensagem toma lá dá cá. Mas será que a luz do seu contexto imediato esses textos podem ser utilizados para dizer que se você ofertar muito Deus vai lhe abençoar muito? Será que é esse tipo de prática que o apóstolo Paulo está incentivando? Está mesmo Deus preso nessa dinâmica da semeadura, na lei da recompensa? Vamos então, panoramicamente, analisar esses textos e é muito importante que você abra sua bíblia e vá conferindo as referências bíblicas.
2Co 8.1-6
Nos primeiros versículos do capítulo 8 Paulo esclarece aos coríntios, uma igreja abastada, como os irmãos macedônios foram generosos na oferta à igreja de Jerusalém, mesmo estando em condições de profunda pobreza (v.2). Paulo exalta a voluntariedade deles em ofertar para a coleta, a alegria em ajudar os irmãos, também pobres, em Jerusalém. O exemplo para a igreja de Corinto, e para nós hoje, é o abençoar para ajudar, e não para ser abençoado.
2Co 8.7-15
Aqui Paulo deixa claro que não está imputando uma ordem aos irmãos (v.8), está apenas dando sua opinião (v.10) expondo o exemplo dos macedônios e do próprio Cristo, para que eles sejam generosos na coleta. Não são as qualidades materiais dos irmãos de corinto que são exaltadas por Paulo, mas seus bens interiores (fé, palavra, cuidado), ou seja, não é o por muito terem que devem ofertar, mas por terem consciência da importância de ajudar o próximo. Aqui o apóstolo toma cuidado para não ser visto como explorador, deixando os coríntios constrangidos a ofertarem mais só porque possuem mais recursos. Nada disso, a oferta autêntica é segundo o coração, ofertar e ajudar é uma graça, que deve ser praticada pelos cristãos. É isso que o apóstolo quer ensinar a igreja: vocês precisam demonstrar esse amor, e essa coleta pode ser uma oportunidade.
No v. 9 Paulo deixa claro que os corintos conhecem o conceito de graça, do amor que se doa, ele diz: “Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos”. Você não precisa ser exegeta para entender que tipo de riqueza Paulo está falando aqui. São riquezas inefáveis, não consumidas pela traça e pela ferrugem. A maior riqueza que um ser humano pode experimentar é sair do status inimigo de Deus para filho de Deus, isso não tem preço!
No final dessa perícope Paulo fala da igualdade que deve haver entre o povo de Deus, trazendo a mente deles a provisão de Deus no deserto com o maná, onde ninguém tinha demais ou de menos.
Para encerrarmos a primeira parte dessa análise, vale ressaltar que Paulo não está falando que quem é rico deve doar tudo para os irmãos pobres, só quer conscientizar a igreja no apoio aos necessitados. E para nós, que dispomos de todo o Novo Testamento na mão, devemos linkar essa passagem com outras, a fim de termos uma ideia mais clara da vontade de Deus. E me vem a mente 1Jo 3.16-17 “Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?”. Aqui fica claro que dar a vida pelos irmãos é ajudá-los em suas necessidades.
Aqui lanço umas perguntas: qual o propósito de se pedir tanto dinheiro na televisão? Será que todo esse dinheiro pedido tem um destino nobre, como ajudar pessoas em situação de risco, ou é usado para manter um “império” pessoal? Ter tantos horários na televisão é mesmo necessário?
Infelizmente alguns desses telepastores começaram bem, mas a coisa foi ficando grande, assim como o orgulho, e o jeito foi apelar usando textos bíblicos para conseguir dinheiro. O que fica evidente nesses homens é a síndrome da Torre de Babel, eles querem construir um nome para si, e a pergunta que fica no ar é: quando Deus descerá para acabar com essa farra?
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