O que aprendi com os “amigos” de Jó

O livro de Jó é riquíssimo, e permite muitos olhares sobre Deus, a vida, a morte, o sofrimento, etc. Ah, esqueça a paciência, pois com certeza essa não era a principal característica de Jó, leia o livro todo que isso fica muito claro. Nesse rápido texto, quero compartilhar com vocês algumas coisas que aprendi com […]



23 de abril de 2012 Bibotalk Reflexões

O livro de Jó é riquíssimo, e permite muitos olhares sobre Deus, a vida, a morte, o sofrimento, etc. Ah, esqueça a paciência, pois com certeza essa não era a principal característica de Jó, leia o livro todo que isso fica muito claro.

Nesse rápido texto, quero compartilhar com vocês algumas coisas que aprendi com os “amigos” de Jó. Eles refletem muito nosso jeito de aconselhar e nossa postura diante do sofrimento.

Segundo o relato bíblico, ao saberem dos acontecimentos em torno da vida de Jó, os amigos Elifaz, Bildade e Zofar, saem, cada um de sua região, para se encontrarem e juntos irem para Uz, afim de serem solidários. Ao chegarem onde Jó estava, perceberam como era grande seu sofrimento, choraram em alta voz, rasgaram suas roupas, colocaram terra sobre a cabeça[1] e sentaram com Jó em silêncio (2.11-13).

Eles começaram bem! Tiveram atitude e foram em direção ao amigo, se compadeceram e partilharam a dor, a ponto de ficarem sete dias em silêncio, deveriam ter ficado de boca fechada…

Depois desse longo período de silêncio, Jó abre a boca e põem pra fora toda sua indignação, raiva, angústia. Sente-se injustiçado e beira a blasfêmia, Deus é o alvo de seus questionamentos. Na verdade, me parece que Jó só queria desabafar, compartilhar o que se passava em seu interior, e quem sabe onde ele mais precisou dos amigos, foi onde eles falharam.

Os discursos de Jó não são ortodoxos, afrontam ideias fixas e vão contra princípios básicos do relacionamento entre a humanidade e Deus, conforme a sabedoria vigente. E os amigos de Jó, defensores desses princípios, não suportam as palavras de Jó, abrem a boca e se perdem em discursos.

Será que temos que falar no momento da dor alheia? E pior, julgar dizendo que a pessoa tá assim porque fez escolhas que a levaram a esse ponto? Por que não conseguimos colocar e misericórdia na frente da ortodoxia? Aqui, não falo para abandonarmos os princípios, mas para sabermos o momento certo de expô-los, pois palavras certas ditas na hora errada só causam mais danos.

Esses amigos também se achavam detentores da verdade, pensavam estar fazendo a coisa certa. Mas depois o próprio Deus os censura. Seus discursos enlatados não atenderam os dilemas da vida Jó. Assim somos nós muitas vezes, seguimos cartilhas prontas e achamos que se serviu pra um vai servir para o outro. Dessa forma, nos atropelamos nas palavras e passamos por cima do outro.

Devemos entender que muitas vezes aconselhar é ficar quieto, somente ouvir. Pois no próprio ato do desabafo a pessoa se encontra. Deixemos nossos conselhos cheios de moral e sabedoria para outro momento, por hora, ofereçamos somente um bom ombro amigo.

Por @bibotalk

 


[1] Rito de penitência e principalmente luto.