Minha Catarina von Bora

Olá pessoal, me chamo Alex e sou o novo escritor aqui do BiboTalk, se quiser me conhecer um pouco mais, visite a página Quem Faz! ——- Se você ainda não sabia disto, Catarina von Bora era freira, e após deixar o mosteiro foi auxiliada por Lutero, com quem veio a se casar. Mas, não quero […]



25 de outubro de 2011 Bibotalk Reflexões
Olá pessoal, me chamo Alex e sou o novo escritor aqui do BiboTalk, se quiser me conhecer um pouco mais, visite a página Quem Faz!
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Se você ainda não sabia disto, Catarina von Bora era freira, e após deixar o mosteiro foi auxiliada por Lutero, com quem veio a se casar. Mas, não quero falar sobre casamento, nem apresentar uma biografia da “legítima família luterana” (rs). Meu assunto é bem outro: as Sagradas Escrituras.

Como assim? Em uma conversa à mesa[1] Lutero disse que a epistola aos Gálatas seria a sua “epistolazinha” a sua “Catarina von Bora[2]. Retrata assim sua identificação profunda com aquele texto bíblico. Sem dúvida esta identificação se deve ao fato de a Carta aos Gálatas conter o cerne da justiça da fé, a clareza típica da distinção entre Lei e Evangelho, a vida pelo Espírito Santo guiada única e exclusivamente pela graça. Mas, não é só uma questão de identificação com o texto bíblico, é questão de amor.

Eu amo minha esposa, creio que Lutero também amava a dele. Dizer eu amo implica em algumas coisas: eu me envolvo num relacionamento em que me disponho a doar de mim mesmo, no caso da Bíblia, doou meu tempo para passar junto dela, ouvindo-a e meditando-a “de dia e de noite” (Js 1.8). Eu me envolvo num relacionamento que me dá prazer, eu gosto dela, eu me alegro nela, eu fico contente quando estou com ela, eu sou feliz com ela (Sl 1.2). Ela me conhece, sabe muito bem quem eu sou, tenho impressão que ela lê meus pensamentos, e que sabe as minhas vontades e assim é capaz de me ajudar na minha vida cotidiana (2Tm 3.16). Nisto tudo, porém, me refiro ao amor as Sagradas Escrituras!

Não quero erotizara leitura das Escrituras, mas apresentar um tipo de intimidade que tem como base o amor: na Bíblia Deus se revela a nós como amor (1Jo 4.8), e nos convida a participar do amor dele (1Jo 4.16), amando a sua Palavra! As Escrituras foram lidas por muito tempo apenas como um texto histórico, ou como um texto objetivo, um conjunto de verdades, não que eu discorde disto, mas me parece que carecemos ler a nossa Bíblia de uma maneira distinta, talvez como o autor do Salmo 19 que afirma que a Lei do Senhor é perfeita, fiel, reta, límpida, verdadeira e seus efeitos são restaurar a alma, alegrar o coração, dar sabedoria aos símplices, iluminar os olhos!

Que nosso desejo ao nos colocar diante das Escrituras seja somente um: deixar Deus ser Deus! Permitindo que a Escritura me leia, seja sua própria intérprete[3], falando para mim aquilo que ela quer falar no seu infinito, eterno e terno amor que vem Deus em Cristo Jesus. Que ela seja para mim e para você “mais desejável do que o ouro, mais do que muito ouro depurado, e mais doce do que o mel e o destilar dos favos” (Sl 19.10).

Aguarde, dia 31 sai podcast sobre a Reforma e na mesma semana um sobre a teologia de Lutero!


[1] Conversas a Mesa (Tischenrede) é o titulo de um volume das obras completas de Lutero (WA = WeimarerAusgabe) que retratam falas do reformador que foram (ou teriam?) ditas durante os momentos de refeição na Faculdade de Teologia. As frases foram colecionadas por pessoas próximas e reunidas neste volume.
[2] WA TR 1, 69, 18-20 apud BAYER, Oswald. A Teologia de Martim Lutero. Ed. Sinodal, 2007, p. 65.
[3] O principio hermenêutico de que a Escritura é sua própria inteprete não significa que a Bíblia deve ser interpretada por ela mesma, um versículo lendo o outro como a tradição evangélica nos ensinou. A ideia de Lutero ao formular este principio era a de que a Bíblia mesma lê a nossa vida e funciona como um espelho: revela quem eu sou (pecador) e revela quem Deus é (o amor) cf. BAYER, Oswald. A Teologia de Martim Lutero. Ed. Sinodal, 2007, p. 49-65.