Enfim, uma pausa pro café. A aula estava estafante, e a vontade de dar uma volta, tomar algo quente e conversar um pouco era grande. Ali na cafeteria encontrei Hakan, e como sempre, um papo muito legal sobre as diferenças culturais entre Brasil e Turquia aflorou.
– Clive, como vai?
– Bem Hakan! E contigo?
– Tudo certo. Estive pensando um pouco na minha terra-natal, a Turquia, e nas coisas de lá. – Disse Hakan com o pensamento distante.
– O que sentes falta?
– O cheiro do fogão a lenha da minha avó, a carne de caneiro no forno, a conversa em volta da mesa. – Disse com um olhos brilhando.
– Também sinto falta deste contato pessoa-pessoa, do cheiro das coisas do meu pais, da gente de lá.
– Mas, o que procuras aqui? Porque veio pra estas bandas da Europa?
– Ah Clive, é uma longa história. Mas em resumo, aqui temos mais chance de trabalho e uma vida com mais conforto.
– Mas será que é só conforto e dinheiro que importam Hakan? – Questionei ele.
– De fato não é só isso que importa. Não consigo deixar de ser turco, mesmo querendo entrar na cultura daqui. Quero gostar daqui, até gosto, mas não consigo deixar minha cultura de lado, na verdade nem sei se quero deixar de lado.
– Eu até me esforço pra entrar mais na cultura, pra “falar a língua” das pessoas e me identificar com elas, mas não deixo de ser brasileiro por isto. Acho que a vida aqui muda nossas perspectivas, mas não perdemos nossa identidade por isso, ou não deveríamos. Entendes?
– Sim, e não! – Riu Hakan ao meu responder – Pra vocês cristãos parece tudo muito fácil, não vejo que vocês se preocupam tanto com a religião de vocês.
– Sim, e não! – Tivemos que rir juntos desta vez – Nem todos os cristãos acham que a cultura ocidental é sinônimo de cristianismo, mesmo que a fé cristã tenha moldado muito do que é o ocidente hoje.
– Ah Clive, não vejo assim não. Estive doente uns tempos atrás e fiquei uns dias no hospital. Lá tinha um Novo Testamento, li ele completo. Gostei muito do que li, encontrei muitas semelhanças com o islã inclusive.
– Cite um exemplo?
– Os mandamentos, a fé em Deus, a obediência, a moral cristã é muito próxima a nossa moral muçulmana. Só que não vejo isso na vida dos cristãos. Quer dizer, eu vejo isso nas páginas da Bíblia, mas isso não faz diferença pros cristãos. Aí eu me pergunto: vocês realmente creem no que diz o livro de vocês?
– Hakan, é lógico que há uma grande parcela das pessoas que se diz cristã, mas que não pratica e não observa nada do que diz a Bíblia. Mas também há muita divergência na interpretação da Bíblia. Na teologia há polos antagônicos irreconciliáveis.
– Também temos partidos no islã, mas não vejo que pensamos muito diferente na questão da moral. Essa semana li no jornal que a Igreja de vocês disse que casamento homossexual é uma nova forma possível de família, e que é necessário relativizar o conceito de família pra alcançar um conceito mais moderno. Como vocês usam a Bíblia? – Indagou ele com certa dureza.
– Eu me envergonho desse texto Hakan, foi infeliz em algumas colocações e até é uma espécie de querer modernizar a Igreja. Mas não sei se esse é o caminho. Acho que tem tanta coisa que devia ser mudada, e não exatamente relativizar o que a Bíblia diz sobre a ética famíliar, sexual, entre outras.
– Eu tenho pena de vocês, sabe, vocês tem textos muitos preciosos e sábios na Bíblia, mas vocês não leem e não obedecem. Eu creio que os cristãos que forem fieis estarão lá no paraíso junto com os muçulmanos, não sei se você pensa assim também, mas eu acho que será assim. Só que vejo os cristãos perdidos, e não atentam mais pros ensinos do seu livro. E por estas razões vemos esta sociedade que se diz cristã, com partidos cristãos no poder, mas que não muda nada pro bem da sociedade.
– Concordo contigo em partes, é verdade que não temos dado a devida atenção à Bíblia, ao seu estudo e à obediência, e vejo que por causa disto temos trilhado caminhos estranhos. Sinto vergonha de ter que admitir isto.
– Faça sua parte meu amigo. Não dá pra mudar o mundo, mas se você que é religioso seguir o que diz o livro sagrado de vocês, e assim outros te ouvirem, quem sabe pode mudar alguma coisa.
– Muito obrigado pelo apoio Hakan! Tem sido muito bom conversar contigo. Vamos pra aula? Já é hora!
Ai que vergonha… Ele tem razão em certas coisas…
Tem situações em que o pecado da Igreja é tão grave, que qqer impio é capaz de revelar.
Realmente o que Hakan disse é verdade, muitos (quase todos) tem acesso a bíblia, porem não praticam.
Claro que nem sempre pratico, mas a diferença está entre tentar e se acomodar.
Muitos tentam e ao longo do tempo conseguem desenvolver o seu caráter tanto espiritual quanto de ser carnal, outros se acomodam e acabam vivendo uma mentira que eles mesmo inventam.
parabéns Alex pelas palavras de exortação. me sinto envergonhado assim como a Pricila. essa é a realidade do nosso país. uma nação cristã cheia de corrupção que tem como frutos inúmeras situações de injustiça e desigualdade sociais. uma igreja que não tem feito a diferenca nas comunidades locais. e cristãos (como eu) que não brilham e nem salgam. meu desejo é fazer algo mais prático do que simplismente entregar panfletos por aí. peço a ajuda de vocês em oração e a coragem para sair as ruas praticar e viver o evangelho de Cristo. abraço Alex e família. graça e paz!
Legal mano, obrigado por ter compartilhado sua experiência e sentimentos.
Vamos seguir construindo junto aqui!
Abraço
Ola a todos…..na minha opinião, a igreja esta indo de mal a pior.E falo isso pelas noticias em q venho acompanhando. Parece q a igreja só esta “bem”, nos países q tem perseguição.
Fantástico o diálogo! Apenas uma simples conversa do dia de hoje.
Oi, Alex… excelente conto. E triste também. Essa semana foi divulgado em todas as mídias um roubo de motocicleta frustrado por um PM que estava no local, alvejando o assaltante. Houve um sem número de manifestações de entusiasmo pelo fato do ladrão ter levado a pior. A secretária dos direitos humanos, Maria do Rosário, comenta sua comoção ao ver o bandido sendo alvejado pela polícia, e desperta outro sem número de críticas a ela, com a seguinte prerrogativa “queria ver se a moto fosse dela”. Bom, dito isso, só queria dizer que o maior problema do cristão brasileiro (só posso dizer do contexto em que vivo) é esse, o de relativizar os mandamentos bíblicos. O sujeito é cristão convicto, prega o amor e a mansidão, até que algo assim atinja a sua porta. E não me excluo dessa vertente, ainda que não tenha ocorrido comigo. O Hakan não é familiarizado com o conceito da Graça, onde não mereço o céu por meus méritos, mas em contrapartida, nós cristãos, acabamos por pecar pela irresponsabilidade de baratear a Graça, não vivendo de forma a honrar o sacrifício de Cristo.
É, Alex… estamos vivendo dias em que há muito conhecimento bíblico, e pouca prática. Que Deus nos ajude… e parabéns pelo seu trabalho.
Abraços!
Um problema crescente em muitos cristãos, é que eles leem a bíblia, mas não a aceitam de fato. Preferem ficar no “eu acho que é assim”. Querem apenas aproveitar o que lhes convém das escrituras sagradas.