Por um Cristianismo sem César

Texto do leitor e ouvinte Thiago Ibrahim Os Evangelhos nos mostram que o centro do ministério de Jesus era cumprir a vontade do Pai. Toda sua vida foi devotada a servi-lo com amor, fazendo tudo conforme o plano de Deus, o Soberano. Uma das questões que muito têm me trazido à reflexão nesses últimos dias […]



13 de junho de 2012 Bibotalk Reflexões
Texto do leitor e ouvinte Thiago Ibrahim

Os Evangelhos nos mostram que o centro do ministério de Jesus era cumprir a vontade do Pai. Toda sua vida foi devotada a servi-lo com amor, fazendo tudo conforme o plano de Deus, o Soberano. Uma das questões que muito têm me trazido à reflexão nesses últimos dias é a questão do capital envolvido na comunidade cristã, bem como a forma como ele é tratado em nossa sociedade. O centro da sociedade da qual fazemos parte é o capital. Compra-se, vende-se, tudo gira em torno do dinheiro. E é esse o ponto que quero destacar nos ensinamentos do Mestre sobre a nossa vida.

Quero chamar sua atenção, leitor, para o que vemos em Mateus 22.15-22, onde Jesus nos dá uma lição de vida e deixa bem claro que os que ressuscitaram com Ele procuram as coisas que têm origem no alto (Cl 3.1-2) e sabem diferenciar o que é para Deus e o que é dessa vida.

No trecho de Mateus em questão os enviados dos fariseus e de Herodes, que tentavam incriminar Jesus usando as próprias palavras do Mestre, vêm até Ele e lhe fazem uma pergunta: “É certo pagar impostos a Cesar ou não?” (v. 17). É importante lembrar que essa pergunta foi feita com a intenção de acusarem Jesus, dependendo da resposta, já que o mestre era visto como uma ameaça para o sistema em questão. Vamos esclarecer um pouco mais o contexto da época: a nação de Israel estava sofrendo sob o poder de Roma (Herodes era o governador daquela localidade) e ao mesmo tempo os fariseus – Judeus – esperavam a vinda de um Messias supostamente libertador político, que livraria Israel da tirania do governo romano.

Agora, coloque-se no lugar de Jesus tendo dar uma resposta que não comprometesse um lado nem o outro. Que resposta você daria? Sua resposta seria evasiva? Você sairia sem responder à questão levantada pelos fariseus e herodianos? A pergunta era uma, digamos, pegadinha, já que se respondesse que não, correria o risco de ser preso como traidor de Roma, já se respondesse sim, seria visto pelos judeus como apoiador do regime tirano, logo, não seria Jesus o Messias prometido. Era uma questão difícil.

Continuando a leitura do capítulo você verá que a resposta de Jesus é a mais surpreendente e profunda de todas. O Mestre pede que a pessoa que lhe perguntou mostre a moeda que era usada pra pagar o imposto (1 denário¹). Agora Jesus pede que lhe digam de quem é a imagem que está na moeda e a resposta óbvia é “de César”. Aí, então, Jesus aplica o golpe de misericórdia respondendo da forma que só a própria sabedoria saberia responder: “Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Jesus consegue com isso responder à pergunta que tinha o objetivo de incriminá-lo e seus acusadores o deixam admirados com sua sabedoria.

Vimos a maravilhosa sabedoria de Jesus em se desvencilhar daqueles que procuravam lhe acusar de traidor, porém o mais impressionante é a grande sabedoria contida na resposta de Jesus e que podemos aplicar à nossa vida cristã. Vamos refletir sobre o “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”?

Quantas vezes nos vemos fazendo o contrário do ensinamento de Jesus, ou seja, dando a César o que é de Deus e a Deus o que é de César? Quando fazemos isso demonstramos que ainda não morremos para o mundo (Cl 3.1), mas estamos vivendo de acordo com o sistema de valores deste século. E é exatamente essa confusão que tem feito a igreja dos nossos dias perder sua essência.

A igreja perde sua essência quando nós seus membros achamos que por meio das contribuições financeiras conseguiremos alcançar o favor de Deus sobre suas vidas e que por “darmos” a Deus ele é obrigado a nos devolver em dobre ou 7 vezes mais, como se estivéssemos pagando um tributo a um governante e cobrando de volta em saúde, saneamento, educação, etc. A igreja perde sua essência quando em vez de entregar a sua vida a Deus, entrega apenas os seus bens. Estamos passando por uma crise de identidade por não sabermos fazer essa diferença. Precisamos entender que o nosso Deus não precisa de moedas. Ele não deseja só o nosso dinheiro, ele quer toda a nossa vida.

Em resumo, dar a Deus o que lhe é devido implica dedicar-lhe não o seu dinheiro, mas principalmente o seu tempo, a sua vida. Dar a Deus o que lhe é devido implica vivermos uma vida santa e de comunhão com o Eterno, fazendo o que lhe agrada, buscando em primeiro lugar os Reino de Deus e sua Justiça e tendo fé de que tudo do que precisamos para viver nos será concedido conforme sua vontade. Que vivamos um cristianismo sem César.

Soli Deo Gloria

para publicarmos seu texto, envie para [email protected], daremos uma analisada, se atender o propósito e a qualidade do blog, ele desfilará por aqui!

¹O denário – que você pode ver na imagem que ilustra esse texto – era a moeda corrente no império romano e que correspondia a 1 dia de trabalho. A palavra dinheiro deriva do daí.