Quando crianças dão dor de cabeça

Ps: O texto à seguir – embora tendo um acontecimento bíblico como fonte inspiradora – é fictício, sendo produto da imaginação do autor.           Em um dia extremamente caloroso, uma águia voa calmamente pelo céu de Israel passando acima das montanhas que cercam as terras de Socó e Azeca. Em busca de comida, a bela […]



27 de junho de 2011 Bibo Reflexões
Ps: O texto à seguir – embora tendo um acontecimento bíblico como fonte inspiradora – é fictício, sendo produto da imaginação do autor.
          Em um dia extremamente caloroso, uma águia voa calmamente pelo céu de Israel passando acima das montanhas que cercam as terras de Socó e Azeca. Em busca de comida, a bela ave de rapina avista uma cena inusitada quando, ao passar pelo cume dos montes e fixando seu olhar sobre o vale de Elá, vê o que parece ser o início de um grande confronto entre inimigos mortais: israelitas e filisteus.
Saul, o então rei de Israel, embora forte e possuidor de uma mente perspicaz, está apreensivo, pois os filisteus que se encontram do outro lado do vale são muitos, fora o fato de que são conhecidos pela alcunha de bárbaros cruéis e sanguinários.
Devido ao calor e estresse, Saul não para de transpirar, andando de um lado para o outro tentando imaginar uma estratégia pra que ao menos se consiga um número reduzido de baixas, porque sabe que está em desvantagem física e psicológica. Ele tenta em vão transmitir segurança para seus liderados, que aliás, estão todos inquietos, com medo e já pensando até em desertar.
Do outro lado os filisteus se alvoroçam esperando uma única ordem para atacar e satisfazer o sentimento de sede de sangue que toma conta de suas almas. De uma forma assustadoramente harmoniosa, eles batem com suas espadas em seus escudos intercalando com graves gritos, fazendo com que um calafrio suba pelas espinhas de seus adversários.

          De repente o coro de vozes ensandecidas pára por um instante, e aos poucos ganha força novamente quando começa a evocar o nome daquele cuja reputação de assassino dos assassinos e deus entre os guerreiros se estende por todo o oriente até o ocidente. Ao longe, os israelitas se aquietam e ouvem: golias, Golias, GOLIAS, GOLIIIAAAAAS…
Os soldados filisteus abrem uma passagem até que um homem, se é que se pode chamá-lo assim, avança em direção ao centro do vale a passos largos e nervosos. Conforme ele se aproxima, os israelitas começam a ter um vislumbre daquilo que parece ser um pesadelo, pois eles não vêem mais um homem, e sim um monstro. Um monstro de três metros da altura vestindo uma couraça escameada já surrada pelas muitas guerras, um capacete, caneleiras e braceletes de bronze, apoiando uma  enorme lança sobre o ombro direito. Cicatrizes não lhe faltam sobre o corpo, este exalando um cheiro forte de suor misturado com sangue seco de suas recentes batalhas.
Golias percorre o caminho até o meio do vale de Elá, e sob seus pés um escaldante mormaço decorrente da alta temperatura emana do solo. De súbito ele pára. Por alguns breves segundos um silêncio quase que eterno toma conta de todos e então, com uma voz de tom exageradamente grave e crocodiliana, ele grita pra que todos ouçam:
          Cães israelitas, fizeram uma grande idiotice em sair guerrear contra mim e meu exército. Bastaaaardos! Fizeram-me viajar de muito longe só para chegar aqui e ver todos esses covardes hebreus. Eu os aniquilarei e pendurarei suas cabeças em espigões para que todos vejam o quanto são insignificantes. Minha lança deseja ferozmente atravessar o corpo frágil e mirrado de cada um de vocês, mas como sou “justo”, vou lhes dar a ínfima chance de não perecerem sob o exército de Gate. Mandem agora o seu guerreiro mais forte, habilidoso e valoroso, e se ele ganhar uma luta homem a homem contra mim, eu e todo o meu povo lhes seremos por escravos para sempre, porém se eu, Golias, o chefe do exército filisteu ganhar, então todos vocês serão nossos escravos.
Após a intimidação, segue-se mais um período estafante de silêncio entre todos. Ouve-se apenas o barulho do restolhar das folhas de poucas árvores e pode-se ver o vento levantando a poeira do chão. Do lado israelita alguns dos soldados se agitam até que chega aos ouvidos do Rei Saul que um tal Davi, pastor de ovelhas, filho de Jessé diz-se capaz de enfrentar o gigante.
Saul é invadido por uma mistura de desprezo e surpresa quando Davi é chamado à sua presença. O fato era que estava diante de si um pequeno e frágil jovem de cabelos ruivos que sequer tinha forças para agüentar o peso de uma armadura.
Antes que Saul pudesse questionar a aparente incapacidade daquele rapaz de tanta confiança, ouve ele se adiantar e proferir as palavras:
          – Meu rei, ungido de Deus, embora eu seja homem do campo, criador de ovelhas, o SENHOR meu Deus tem feito da minha pequenez força diante do meu rebanho, e com essa mesma força aniquilo ursos e leões que tentam contra meus protegidos. Rogo-te agora que me deixe ir contra esse filisteu incircunciso para que mais uma vez a casa de Israel possa dar glórias ao  Senhor, que é mais poderoso do que qualquer exército.
Diante de tal afirmação, Saul consente temerosamente com a proposta de Davi. O pequenino sai da presença do rei com passos rápidos e curtos, munido apenas de seu cajado, uma bolsa de couro e sua funda.  Golias olha de soslaio e franzi o cenho ao ver aquele rapazote se aproximando sem sequer estar segurando uma espada.
O jovem pára a míseros oito metros de distância do gigante encouraçado, agacha e recolhe cinco pequenas pedras do chão, das quais quatro coloca em sua bolsa. Davi então olha fixamente para Golias não demorando muito para que este esboçasse seu desprezo:
          – Verme insignificante, você não tem a metade do meu tamanho e se atreve a vir a mim com um pedaço de pau e com algumas pedrinhas como se fosse enxotar um filhote de cão? Inseto! depois que eu fatiar você em pedaços darei o que sobrar da sua frágil carcaça aos abutres e aos chacais.
Davi, sem demonstrar qualquer reação, exalta sua voz e com bravura diz:
          – Acha mesmo que espadas e armaduras podem contra o Deus poderoso de Israel? Com tais dizeres não afrontou a mim, mas ao Senhor dos exércitos, YAHWEH, que entregará você e seu exército nas mãos do povo de Israel. Esta batalha não é minha, mas dEle.
Tomado pela raiva diante de tamanha afronta vindo da parte de um menino, Golias solta um grito estremecedor como se fosse um leão rugindo, empunha sua lança e em uma explosão de adrenalina avança contra aquele jovem como um rinoceronte desgovernado. Davi, por sua vez, rapidamente acomoda em sua funda a pedra que estava em sua mão, dá duas giradas com o braço direito e lança o projétil na direção do filisteu.
O tempo pára.
          Milhares de soldados de ambos os lados olham arregalados e apreensivos para aquela cena incomum. Não há boca que não esteja aberta, face que não esteja pasmada. Milhares de olhos, cada um registrando aquele momento decisivo e sem sequer piscar.
A águia voa baixo e circunda o alvo de todas as atenções. Com sua visão aguçada e de um lugar privilegiado, ela presencia de tão perto o que nenhum outro homem de guerra jamais viu.
Enquanto a pedra está no ar percorrendo sua trajetória, uma espantosa e brilhante energia branca flui dela fazendo-a parecer com um pequeno cometa. Ganhando uma velocidade exponencialmente imperceptível, ela rompe a barreira do som e pequenas ondas de choque circulares saem do projétil de forma centrífuga.
O tempo que parecia estático toma novamente seu curso. Para os que estão de fora apenas um zumbido pode ser escutado.
Aquilo era o poder do Espírito de Deus.
Por fim, a minúscula pedra alcança o alvo atingindo em cheio o centro da testa de Golias. Um pequeno orifício é aberto ao atravessar a camada frontal do capacete de bronze, perfurando a caixa craniana e trespassando toda a massa cinzenta,  para só então sair por trás causando uma enorme explosão de sangue e massa encefálica que voam pelos ares. O capacete fica como se pólvora tivesse explodido dentro de uma lata. Todo o corpo de Golias recebe o choque do violento impacto e o que resta de sua cabeça é forçada em direção oposta a que suas pernas o levavam.
Lentamente o gigante cai e chega ao chão como um grande cedro que foi cortado. O sangue se espalha pelo solo empoeirado e se infiltra entre o cascalho. O silêncio é quebrado e ouve-se um grande júbilo de muitas vozes de soldados israelitas que pulam freneticamente, jogando seus capacetes para o alto e abraçando uns aos outros. O rei Saul fica catatônico.
A águia retoma a altura do seu vôo e lentamente se afasta tendo em sua visão aguçada uma visão panorâmica de todo o vale de Elá.
Davi, esboçando um pequeno sorriso de canto de boca e inclinando lentamente sua face para o alto, sussurra:
          – Obrigado Senhor.
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Por MAC
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