Clive em: Porto seguro

O telefone toca como se repentinamente um caminhão de bombeiros invadisse o meu gabinete. O silencio e o sossego se foram. Como um vendedor de telemarketing dispara Fernando ao telefone. Ele só queria me contar a respeito do Macário, que o procurara novamente pedindo ajuda. Macário, com todo o respeito que ele merece e dadas […]



12 de fevereiro de 2015 Alex BTContos

O telefone toca como se repentinamente um caminhão de bombeiros invadisse o meu gabinete. O silencio e o sossego se foram. Como um vendedor de telemarketing dispara Fernando ao telefone. Ele só queria me contar a respeito do Macário, que o procurara novamente pedindo ajuda. Macário, com todo o respeito que ele merece e dadas as devidas proporções é comparável àquele dócil bichinho que você encontra na rua, todo sujo e maltratado. Você o leva pra casa, dá um banho, oferece comida e um lar. Mas algo dentro dele diz que seu lugar é a rua. E lá se vai o seu bichinho novamente a se perder na primeira esquina da vida. Um dia ele volta, quando sentir que é a hora. Ele sabe onde encontrar o amor, que como o sol da manhã num dia frio, aquece a corpo e ilumina a alma.

Voltemos ao Fernando, que como uma metralhadora dispara ao telefone contando-me o que acontecera:

– Clive, o Macário esteve ontem aqui em casa pedindo ajuda. E eu pensei que ele poderia me ajudar num trabalho que tenho aqui. Fiquei pensando, tem tanto coisa pra fazer, e eu sempre preciso de um ajudante. Aí, me veio de repente a ideia: Não seria bom se ele me ajudasse? Eu acho que…
– Fernando! – Interrompi como quem desce o cutelo à carne – E o que exatamente ele quer?
– Ééé… ajuda! – Sua indecisão me deixava apreensivo.
– De que tipo estamos falando? Seja mais preciso! – A minha calma dava lugar a impaciência enérgica, como quando você quer atravessar o sinal verde e o motorista da frente te impede.
– Ele não quer mais beber. Até acredito que ele quer se internar novamente, mas nem tocou nesse assunto, Clive. – Relatou Fernando, agora já conseguindo organizar melhor as ideias em sua mente.
– Ele está com vergonha, Fernando. O sentimento é natural. Ele sabe que foi fraco e cedeu ao vício. Mas ele sabe com quem pode contar – Amenizei o tom da conversa, tratando logo de mostrar ao Fernando como Macário possivelmente se sente.
– Algum plano, Clive? O que podemos fazer por ele? – Questionou me Fernando, como quem sente coceira por ter ficado parado.
– Sim. Sei o que podemos fazer. Marque um almoço com o Macário. Vou estar junto com vocês. Ele precisa de um novo começo, uma nova chance e eu sei como podemos ajudá-lo.
– Farei já Clive, pode deixar comigo! Amanhã de meio-dia aqui em casa, pode ser? – Apressou-se em responder-me. A pressa em dar uma solução ao caso de Macário era como a de quem ganhou na loteria e está com medo de perder o bilhete à caminho do banco – Ah, Clive, você acha que já consegue arrumar uma vaga em uma clínica de recuperação pra ele?
– Sernando, amanhã estaremos todos juntos. E com certeza, encontremos uma forma de ajudar o Macário. Até amanhã meu amigo, Deus te abençoe! – Encerrei, sem querer dar falsas esperança, mas deixando claro que algo teria que ser feito pelo nosso amigo em comum.

O que fazer ainda não estava claro para mim, mas algumas possibilidades se abriam em minha mente. Uma nova internação poderia ajudá-lo, mas depois de uma dezena delas, algumas frustradas, outras em que ele foi até o final, será que seria esta uma possibilidade viável e boa? Bom, eu teria um dia para pensar e agir, e foi o que fiz. Pela minha inexperiência procurei apoio, pois me sentia como quem estava em uma sala escura e não conseguia encontrar a maçaneta da porta. Macário teria em fim sua nova chance. Como ele reagiria à proposta que eu tinha a lhe fazer?

Continua….

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