É crucial boa teologia para bom aconselhamento. Por isso, a pessoa que se envolve com aconselhamento na comunidade, também deve estar ciente das principais doutrinas cristãs, afinal, erro doutrinário, pode gerar culpa e uma visão distorcida de Deus. O teólogo Hodge admoesta: “Que ninguém creia que erro doutrinário seja um mal de pouca importância (…) Nenhum caminho para a perdição jamais se encheu de tanta gente como a falsa doutrina. O erro é uma capa da consciência, e uma venda para os olhos.”[1] Assim, o estudo da teologia é ferramenta indispensável no preparo do conselheiro.
John MacArthur afirma em seu livro Teologia Pastoral, que se constitui uma das principais tarefas do aconselhamento pastoral o ensino bíblico que conduz a maturidade. Segundo ele, Paulo e seus companheiros tinham como prioridade básica o ensino da Palavra, ou seja, toda ação diaconal deles era importante, porém, secundária. Todo o cuidado que o apóstolo Paulo demonstrou em suas cartas, parecem ter como objetivo principal o “andar” digno diante de Deus por meio da ministração da Sua palavra (1Ts 2.12-13)[2].
A mesma postura cabe ao conselheiro cristão, que deve pautar seus conselhos também nas Escrituras e por isso, ter noções básicas de teologia cristã. Não quer se dizer com isso que todo conselheiro precise necessariamente estudar teologia formalmente, num seminário ou faculdade, porém, se é dever de todo cristão conhecer as Escrituras, o que dizer então daquele que se propõem a aconselhar segundo a mesma?
Espera-se do conselheiro cristão, que ele não se enquadre no grupo das pessoas desinteressadas em teologia, grupo esse que cresce dentro das igrejas evangélicas.[3] Infelizmente ainda muitos se perguntam se é mesmo necessário estudar teologia, não percebem que todos fazem teologia. Nas palavras de Sawyer:
Toda vez que pensamos em Deus, envolvemo-nos com teologia. A pergunta, portanto, não é se seremos teólogos – não temos escolha quanto a isso. Pelo contrário, a questão é que tipo de teólogo seremos – bons ou maus, responsáveis ou irresponsáveis.[4]
Quando se fala da incerteza da salvação, para citar um caso, está-se diante de uma crise espiritual e de cunho bíblico-teológico, sendo esse, só um dos problemas desencadeados pela ignorância bíblica. Como afirma Collins:
Provavelmente, você ficaria desolado se soubesse realmente quantos sofrimentos e transtornos espirituais são causados porque as pessoas não conhecem a Bíblia direito e não entendem claramente as Escrituras. Veja, por exemplo, ideias sem nenhum embasamento bíblico, como a de que somos salvos pelas boas obras, a de que o crescimento cristão depende exclusivamente de nós mesmos, de que a dúvida ou nossos impulsos sexuais despertarão a ira de Deus, de que o amor de Deus depende de nossas ações especiais, de que Deus se recusa a perdoar atos de pecados e desobediências, de que os problemas financeiros ou familiares são um castigo de Deus […] Estes e vários outros conceitos errados podem causar inflexibilidade, incerteza, dúvidas de ordem espiritual e apatia.[5]
Fica evidente que problemas espirituais gerados por equívocos teológicos devem ter um tratamento diferente daquele dispensado a outros tipos de dificuldades, ainda que siga os mesmos passos básicos do aconselhamento[6], desvios teológicos são tratados com conceitos teológicos.
O uso do ensino como aliado natural do conselheiro é chamado de aconselhamento educativo. É quando a educação soma no propósito do aconselhamento que tem como meta o crescimento integral da pessoa. Segundo Clinebell, os objetivos do aconselhamento educativo são:
Descobrir quais os fatos, conceitos, valores, conteúdos de fé, habilidades, orientação ou conselhos necessários para pessoas no enfrentamento dos seus problemas; comunicar os mesmo diretamente ou ajudar pessoas a descobri-los (por exemplo pela leitura); ajudar pessoas a utilizar essa informação para compreenderem sua situação, tomarem decisões sábias ou liderem construtivamente com os problemas.[7]
Assim, entendo que diante de crises de cunho bíblico-teológicas, o conselheiro precisa estar preparado com os fundamentos da fé cristã. Não somente crises desse tipo, mas diante de todos os dilemas da vida, o conselheiro precisa conhecer as Escrituras para Nela trazer o consolo e a orientação que o aconselhando precisa.
[1] HODGE, D. C. apud PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1970. p. 14
[2] MACARTHUR, J. Ministério pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 1998. p. 254-255.
[3] CRAIG, W. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo:Vida Nova, 2010. p. 9-31.
[4] SAWYER, M. J. Uma introdução à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor teológico. São Paulo: Vida, 2009. p. 17.
[5] COLLINS, G. R. Aconselhamento cristão. São Paulo: Vida Nova, 2004. p. 663.
[6] Segundo COLLINS, o processo de aconselhamento provavelmente envolverá alguns dos seguintes dos seguinte elementos: oração; exemplo; exortação; ensino (que é passo fundamental na crise teológica) e exorcismo. 2004, 668-72.
[7] CLINEBELL, H. J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. 4. Ed. São Leopoldo: Sinodal, 2007. p. 315.