– Ei, ouvi a professora dizer que você é “padre”, “religioso”, algo desse tipo. É verdade?
– Sim, algo desse tipo mesmo. Eu me chamo Clive, venho do Brasil, e sou pastor. Meu nome é americano porque fui criado por missionários americanos que atuam no país.
– Prazer, me chamo Anton, sou da Georgia. Fui batizado ortodoxo, mas não acredito no que a Igreja ensina. Pra mim deus é uma força do universo, algo assim.
– Interessante Anton, deviamos conversar mais a respeito. E nosso colega de turma aqui, como se chama?
– Hakan, sou turco e muçulmano.
– Olha só, temos uma turma bem multireligiosa aqui no curso. Teremos muito o que conversar.
– Não sei Clive, eu tenho aqui algumas dúvidas sobre a Bíblia. Os nossos padres ortodoxos não gostam de perguntas, então vou fazer pra você….
– Fique a vontade Anton!
– Há tantas formas de se interpretar a Bíblia, e tantas religiões no mundo. Como você pode dizer que só você está certo?
– Eu não tenho pretensão de ser o dono da verdade. Eu leio a Bíblia, entendo ela como Palavra de Deus pra minha vida e acredito nela. Ninguém é obrigado a crer igual a mim, e aliás o julgamento de quem está certou ou errado pertence a Deus e não a mim.
– Boa Clive, mas olha só, nós muçulmanos cremos que só aqueles que praticarem o bem, cumprirem as regras do Alcorão e forem fiéis a Alá poderão desfrutar do paraíso.
– Interessante Hakan, não só vocês pensam assim. Muitos cristãos também acham que por fazerem coisas boas serão merecedores do amor de Deus.
– Espera aí! Amor de Deus, como assim? Eu acho que Deus é só uma força sobrenatural. Lá na Georgia eu vi uma hóstia consagrada sangrar, eu vi na minha frente. Foi um milagre. Mas ainda assim isto não me convenceu que Deus é pessoal e se importa com o que acontece aqui na terra.
– Bom Anton, eu creio que Deus é pessoal não porque eu vi um milagre, mas porque eu me relaciono pessoalmente com ele pela oração. Eu “ouço” o que ele fala na Bíblia e percebo como ele age através da minha vida e da vida de outras pessoas.
– Ah, mas nós muçulmanos também oramos! Cinco vezes ao dia.
– Mas qual a razão disto tudo amigos? Porque você ora Hakan? E qual a razão de ser de Deus Anton?
– Pra mim Deus existe apenas para fazer o mundo funcionar, e para dar uma “moral” pras pessoas. De outro modo isto aqui viraria uma bagunça. Mas ele não intefere na vida de ninguém. Isto são os religiosos que fazem, eles inventaram o pecado e as leis da Igreja para nos impedir de amar e sermos felizes.
– Discordo Anton, o Alcorão nos ensina que devemos fazer o que é certo. Ter uma moral é fundamental. Mas Alá quer nossa obediencia às suas leis e aos seus rituais. Só um bom muçulmano poderá desfrutar das alegrias do paraíso.
– Hakan, Anton. Vou lhes dizer o que nos separa. Algo bem simples e que vocês ainda não conhecem. Se chama graça. Anton, enquanto você cre num deus distante e filosófico, que deu algumas poucas regras pro mundo funcionar e depois se ausentou, eu creio num Deus que se importa comigo e contigo. Alguém que nem considera se você pecou ou não, afinal de contas eu e você sabemos que todo mundo faz besteiras e coisas erradas na vida. Deus não está levando em conta o monte de besteiras que você fez no seu passado. Ele está dizendo apenas que quando confiarmos nele, herdaremos a eternidade de graça. Hakan, enquanto você se esforça pra agradar Alá e seguir a risca seus rituais e orações, o Deus de Abraão, pai de Ismael, deu tudo gratuitamente ao seu servo Abraão, e assim dará a nós também gratuitamente. Seja uma vida aqui neste mundo sob o seu cuidado e amor, seja no “paraíso” que ele tem preparado para nós.
– Interessante Clive, sobre isso podemos falar mais uma outra hora. A aula vai recomeçar…