ANOTAÇÕES PRIMÍCIAS

No Antigo Testamento, a oferta das primícias é uma prática importante. Ela está relacionada à dedicação a Deus das primeiras colheitas e dos primeiros frutos da terra, como sinal de gratidão e reconhecimento pela provisão divina. A oferta das primícias aparece em várias passagens, como em Êxodo 23:19 , que diz: “Tragam ao santuário do […]



21 de novembro de 2024 Bibotalk Textos

No Antigo Testamento, a oferta das primícias é uma prática importante. Ela está relacionada à dedicação a Deus das primeiras colheitas e dos primeiros frutos da terra, como sinal de gratidão e reconhecimento pela provisão divina.

A oferta das primícias aparece em várias passagens, como em Êxodo 23:19 , que diz:

Tragam ao santuário do Senhor seu Deus o melhor dos primeiros frutos das suas colheitas.

Também em Levítico 23:10-11 , onde é instruído que o povo deveria trazer um feixe das primícias da colheita ao sacerdote, para que fosse movido diante do Senhor. Essa oferta simbolizava a consagração do restante da colheita a Deus e um ato de confiança, pois o povo entregava o que era colhido primeiro, acreditando que o Senhor continuaria a provar. Ela era celebrada durante a Festa das Semanas (Pentecostes), entre outras graças festivas.

Essa prática tinha um significado profundo de devoção e dependência de Deus no contexto agrícola de Israel. 

1. Êxodo 23:19

Contexto Imediato

  • Essa passagem faz parte do Livro da Aliança (Êxodo 20–23), onde Deus entrega instruções planejadas a Israel sobre como viver em fidelidade à aliança estabelecida no Sinai.
  • O capítulo 23 trata de diversas leis que regulam a justiça social, o descanso sabático, as festas anuais e o culto a Deus.
  • A menção das primícias ocorre no contexto das festas de peregrinação, especialmente na Festa da Colheita (Pentecostes).

Palavras-chave

  • “Primícias” (ראשית, reshit ) : Refere-se aos primeiros frutos ou produtos da terra. Simboliza a consagração a Deus do primeiro e melhor da colheita.
  • “Trarás à casa do Senhor” : Implica um ato de culto e gratidão. A “casa do Senhor” aqui é uma referência ao local onde Deus se encontrava com o povo (primeiramente o tabernáculo, depois o templo).

Teologia e Significado

  • A oferta das primícias reflete a soberania de Deus sobre a terra e as colheitas, confirmando que tudo o que o povo possuía vinha da sua provisão.
  • Era também um ato de confiança: ao oferecer os primeiros frutos, o povo dependia de Deus para provar o restante da colheita.

 

2. Levítico 23:10-11

10 “Diga o seguinte aos israelitas: Quando vocês entrarem na terra que lhes dou e fizerem colheita, tragam ao sacerdote um feixe do primeiro cereal que colherem. 11 O sacerdote moverá ritualmente o feixe perante o Senhor para que seja aceito em favor de vocês; ele o moverá no dia seguinte ao sábado.”

Contexto Imediato

  • O capítulo 23 do Levítico descreve as festas sagradas de Israel. Esta passagem refere-se ao Dia das Primícias , uma celebração que fazia parte da Festa dos Pães Asmos (Páscoa).
  • A prática está diretamente ligada à terra prometida: só seria realizada depois que Israel entrou em Canaã e começou a colher os frutos da terra.

Palavras-chave

  • “Molho” (עמר, omer ) : Feixe de grãos recém-colhidos. É um símbolo da oferta inicial da colheita.
  • “Moverá o molho” (הניף, hanif ) : Refere-se a um ato cerimonial em que o sacerdote move o feixe diante do altar como uma oferta de dedicação.
  • “Para que sejam aceitos” : Aponta para a função de mediação e reconciliação com Deus. Esse ato marcava o reconhecimento de Deus como o provedor.

Teologia e Significado

  • O molho das primícias representava a santificação de toda a colheita. Era um reconhecimento de que tudo pertencia a Deus e um pedido para que Ele abençoasse o restante.
  • Aspecto Escatológico : A oferta das primícias aponta para a colheita final da humanidade. A ideia de “ser aceito” ecoa na linguagem do Sacrifício de Cristo, que nos torna aceitáveis ​​a Deus.
  • Cristo como o Cumprimento : A menção do “dia seguinte ao sábado” é significativa, pois Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana (domingo), no contexto da Festa das Primícias, cumprindo simbolicamente esse evento.

 

Comparação e Implicações

Aspecto Êxodo 23:19 Levítico 23:10-11
Contexto Ofertas gerais na vida cotidiana Festa das Primícias, parte do calendário anual
Ação Trazer as primícias à casa do Senhor Apresentar o molho ao sacerdote
Propósito Gratidão e consagração Aceitação diante de Deus
Cumprimento em Cristo Cristo como as primícias da criação redimida Cristo como a primícia da ressurreição

Aplicações para Hoje

  1. Reconhecimento da Soberania de Deus : As primícias destacam que tudo o que temos pertencem a Deus. Isso nos inspira a viver com gratidão e generosidade.
  2. Cristo como o Centro : A oferta das primícias é cumprida em Jesus, que é o início de uma nova colheita — a redenção da humanidade.
  3. Cuidado com Interpretações Erradas : Como vimos, não há base para aplicar essas passagens de forma literal no Novo Testamento. A ênfase recai sobre ações voluntárias e um coração generoso.

Qual a relação das primícias com o Dízimo?

As primícias e o dízimo são conceitos diferentes no Antigo Testamento, mas ambos envolvem a prática de devolver a Deus uma parte do que Ele concedeu ao Seu povo. Embora muitas vezes confundidos, suas funções, simbolismos e aplicações são diferentes. Vamos analisar as semelhanças e diferenças:

1. O Que São as Primícias?

  • Definição: As primícias referem-se à primeira parte da colheita ou produção que foi dada a Deus como sinal de gratidão e consagração. Não havia uma porcentagem fixa para as primícias; eram simplesmente o primeiro e melhor da colheita.
  • Passagens-chave:
    • Êxodo 23:19: “As primícias dos primeiros frutos da tua terra envolvem à casa do Senhor teu Deus.”
    • Levítico 23:10-11: Relaciona as primícias ao “molho movido” no início da colheita de cevada.
  • Propósito: Demonstrar dependência de Deus para o sustento e consagrar o restante da colheita a Ele.

2. O Que É o Dízimo?

  • Definição: O dízimo (em hebraico, ma’aser , “décima parte”) é a devolução de 10% da produção agrícola, pecuária ou outros rendimentos ao Senhor. Era obrigatória na Lei de Moisés.
  • Passagens-chave:
    • Levítico 27:30: “Também todas as dízimas da terra, da semente da terra ou do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor.”
    • Deuteronômio 14:22-29: Estabelece a prática do dízimo para sustento dos levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas.
  • Propósito: Sustentar o culto no tabernáculo/templo, prover para os levitas (que não tinham herança na terra) e cuidar dos necessitados.

Diferenças Fundamentais

Aspecto Primícias Dízimo
Quantidade Não especificado (primeiros frutos) 10% da produção
Periodicidade Oferecida no início da colheita Regular (anual ou ao longo do ano)
Propósito Gratidão e consagração Sustento do templo, levitas e necessitados
Simbolismo Reconhecimento de Deus como fonte de vitórias Devolução de parte do que pertence a Deus
Natureza Voluntária (relacionada com inspiração e fé) na quantidade 10% Obrigatório na Lei de Moisés

Semelhanças

  1. Reconhecimento de Deus como Provedor: Tanto as primícias quanto o dízimo reconhecem que tudo vem de Deus. Ao oferecer os primeiros frutos ou uma parte da produção, os israelenses demonstraram que dependiam d’Ele para o sustento.
  2. Adoração e Culto: Ambos eram atos de estímulo e faziam parte do culto a Deus, realizados no tabernáculo ou no templo.
  3. Provisão para os Levitas: Tanto as primícias quanto o dízimo contribuíram para o sustento dos sacerdotes e levitas, que eram responsáveis ​​pelo serviço no templo (Números 18:12-21).

Críticas ao uso moderno dessa oferta das primícias.

Muitos teólogos e pastores criticam a prática de vincular as primícias e o dízimo na teologia contemporânea, especialmente quando usadas para manipular os fiéis. Eles destacam que:

  1. Descontextualização: As primícias e o dízimo eram práticas específicas da Antiga Aliança, relacionadas à economia agrícola de Israel.
  2. Nova Aliança: No Novo Testamento, o foco é na generosidade, e não na imposição de práticas como primícias e dízimos obrigatórios.

No Novo Testamento, a prática específica das ofertas das primícias, como foi vista no Antigo Testamento, não é mencionada da mesma maneira. Isso ocorre porque o contexto da igreja no Novo Testamento começa a mudar de uma cultura predominantemente agrícola e judaica para uma comunidade mais diversificada e internacional, com um entendimento mais amplo de estímulo e ofertas.

No entanto, o conceito das “primícias” continua presente de maneira simbólica e espiritual no Novo Testamento. Por exemplo:

  1. Cristo como as Primícias : Em 1 Coríntios 15:20 , Paulo refere-se a Cristo como as “primícias” dos que morreram:
    “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.”
    Aqui, Jesus é descrito como o primeiro a ressuscitar, garantindo a ressurreição dos crentes.
  2. Os crentes como primícias : Em Tiago 1:18 , os crentes são chamados de “primícias” da criação de Deus:
    “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas.”
    Isso sugere que os primeiros crentes têm um papel especial no plano de Deus, de maneira simbólica.

Não que diz respeito às ofertas na igreja do Novo Testamento, a abordagem muda para um princípio mais amplo de generosidade e sustento da comunidade cristã, em vez de práticas específicas de ofertas agrícolas. As ofertas passam a ser baseadas na necessidade da igreja e no cuidado pelos pobres e necessitados, como podemos ver em:

  • Atos 4:32-37 : Onde os membros da igreja primitiva vendiam propriedades e traziam o dinheiro aos apóstolos, para serem distribuídos conforme a necessidade.
  • 2 Coríntios 9:6-7 : Onde Paulo incentiva a doação generosa e voluntária:
    “Cada uma contribuição segundo proposta no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.”

Portanto, a igreja do Novo Testamento não aplicava diretamente a oferta das primícias como era feita no Antigo Testamento, mas o princípio de oferecer a Deus o melhor de si (em tempo, recursos ou vida) continua presente, adaptado ao novo contexto da igreja cristã.

Manipulação Financeira Relacionada à Oferta das Primícias

Em algumas igrejas contemporâneas, especialmente naquelas influenciadas pela teologia da prosperidade, a prática da oferta das primícias foi reinterpretada de maneiras que levantam preocupações teológicas e éticas. Vamos analisar os aspectos dessa manipulação:

1. Promessas Não Bíblicas

  • O que é prometido?
    • Líderes religiosos que promovem a prática moderna das primícias frequentemente vinculam a entrega dessa oferta a promessas de prosperidade financeira, vitórias pessoais, ou mesmo cura e milagres.
    • A ideia é que, ao oferecer as “primícias” (geralmente representadas por um valor financeiro significativo ou o salário do primeiro mês do ano), Deus seria “obrigado” a abençoar o ofertante abundantemente.
  • Por que é problemático?
    • Essa abordagem transforma a oferta em uma espécie de “barganha” com Deus, o que contradiz o ensino bíblico sobre a graça divina. Deus não opera por mérito humano, mas por Sua soberania e bondade (Efésios 2:8-9).
    • Não há garantia bíblica de que dar primícias, dízimos ou qualquer outra oferta resultará em bênçãos materiais específicas.

2. Exploração da Fé

  • Como ocorre?
    • Muitos líderes utilizam versículos do Antigo Testamento, como Êxodo 23:19 ou Provérbios 3:9-10, de forma descontextualizada para justificar a obrigatoriedade das primícias financeiras. Esses textos são aplicados diretamente aos cristãos sem considerar a transição para a Nova Aliança.
    • Os fiéis são incentivados a dar além de suas possibilidades, muitas vezes movidos pelo medo de perder bênçãos ou pela esperança de prosperidade.
  • Impacto nos fiéis:
    • Pessoas em situações financeiras vulneráveis são particularmente afetadas, muitas vezes sacrificando necessidades básicas em busca de bênçãos que nunca foram prometidas por Deus.
    • Isso pode gerar um ciclo de frustração e culpa nos ofertantes, quando não veem o retorno prometido.

3. Teologia da Prosperidade e “Contrato com Deus”

  • Relação com a Teologia da Prosperidade:
    • Essa manipulação está intimamente ligada à teologia da prosperidade, que ensina que Deus deseja que todos os cristãos sejam ricos, saudáveis e bem-sucedidos.
    • A oferta das primícias é apresentada como um “princípio espiritual” que desbloqueia essas bênçãos, transformando a generosidade em uma transação condicional.
  • A “Teologia da Ameaça”:
    • Algumas igrejas chegam a sugerir que não ofertar as primícias pode trazer maldição ou perda das bênçãos (uma interpretação equivocada de Malaquias 3:8-10).
    • Isso transforma um ato voluntário de adoração e gratidão em uma obrigação coercitiva, gerando medo em vez de liberdade na doação.

Críticas Fundamentais

 

  1. Oferta na Nova Aliança:
    • O Novo Testamento enfatiza a generosidade voluntária, movida pelo coração, e não por imposições legais ou medo (2 Coríntios 9:7).
    • A salvação e as bênçãos espirituais em Cristo são resultado da graça divina, não de obras humanas ou ofertas financeiras.
  2. Descontextualização do Antigo Testamento:
    • As primícias eram parte de um sistema agrícola e cultural específico de Israel sob a Lei Mosaica. Aplicar essas práticas diretamente à igreja moderna ignora a transição para a Nova Aliança em Cristo.
  3. Falsificação da Adoração:
    • Transformar a oferta em um instrumento para obter prosperidade corrompe seu propósito, que é adorar a Deus e demonstrar gratidão por Sua provisão.

Considerações Finais

A essência das primícias e do dízimo está em reconhecer que tudo pertence a Deus e em responder a Ele com gratidão e confiança. Na Nova Aliança, isso se manifesta por meio de uma vida de generosidade livre, em vez de práticas obrigatórias. Ao compreender essas verdades, evitamos abusos e abraçamos uma adoração genuína, centrada na graça e na suficiência de Cristo.

Com a vinda de Cristo, a Lei Mosaica foi cumprida e transformada em um novo pacto. No Novo Testamento:

  • O foco desloca-se da obrigação para a generosidade voluntária. Não há mandamento explícito para continuar a prática das primícias ou do dízimo como no Antigo Testamento.
  • A ênfase recai sobre o coração doador, como ensinado em 2 Coríntios 9:7: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.”
  • Cristo é apresentado como as “primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20), cumprindo o simbolismo das primícias ao inaugurar a nova colheita espiritual.

Aplicação Prática

Para líderes e igrejas, é essencial:

  • Ensinar as práticas do Antigo Testamento em seu contexto correto, sem impor essas práticas aos cristãos da Nova Aliança.
  • Promover uma cultura de generosidade baseada no amor a Deus e ao próximo, e não em barganhas financeiras.
  • Proteger os fiéis de manipulações e promessas falsas, conduzindo-os à maturidade espiritual.

Para os cristãos, é importante:

  • Oferecer a Deus com liberdade e alegria, reconhecendo Sua graça em suas vidas.
  • Evitar práticas que tratem Deus como um “garantidor de bênçãos materiais”.
  • Buscar um entendimento bíblico profundo sobre o propósito das ofertas na adoração cristã.

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