Falar biblicamente sobre esperança não é como muitos pensam. Eles entendem fé e esperança como aquele sentimento de que tudo vai acabar bem aqui e agora. As pessoas dizem: “Calma, fica calmo, a gente vai passar por essa, vai dar tudo certo no final”. Então: vai dar tudo certo no final, mas talvez não seja no final que a gente espera.
Na cruz, Jesus orou o início do Salmo 22: “Eli Eli lamá sabactani” ou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Percebam que aqui há um grito de dor, há um grito de lamento, há um sentimento de abandono e desespero. Na espiritualidade bíblica, existe espaço para o lamento, espaço para questionamentos, espaço para o sentimento de abandono. Se você é cristão e está em dúvida em relação aos momentos que a gente está vivendo, se não consegue dar brados de vitória e ficar dizendo que “vai ficar tudo bem” ou “força, fé, esperança” com aquele sorriso no rosto, fique tranquilo, você não está em pecado ou tendo falta de fé. Você está sendo gente. Jesus lamentou e chorou quando foi tempo de lamentar e chorar. Existe o tempo do pano de saco, quando choramos nossos pecados e sentimos Deus distante.
Lamente, mas não se esqueça de Deus, porque o salmista fala: “Deus meu, Deus meu”. Ele começa o lamento com o Senhor, e isso faz toda a diferença. Diante dele, choramos o momento, ficamos com o coração apertado, , sentimos até que Deus virou o seu rosto, mas não tiramos Deus do lamento. Pois, nele, temos esperança.
Dessa forma, a esperança cristã não é pautada na utopia ou no cinismo. Ela é pautada na gratidão e na realidade. É grata por tudo o que viveu até aqui e não nega o vale da sombra e da morte que agora tomou conta.
Guilherme de Carvalho disse algo tremendo: “O lamento sem esperança vira murmuração!”. Lamentamos para Deus e depositamos nossa esperança nele. Mas, fazer isso não garante isenção da dor. Nem o próprio Filho ficou livre dela, contudo, ao orar o Salmo 22, Jesus, que conhecia todo o texto, sabia que terminaria exaltando e confiando em Deus apesar das circunstâncias. Leia o Salmo 22 (e o 13 também se puder)!
Como peregrinos, sabemos que só no mundo vindouro teremos alegria plena e não haverá mais choro. Por aqui, existe o dia mal, mas podemos ter paz de espírito. Sabemos que ele cuida de nós mesmo em meio à tempestade. E, olha só, aquele que sempre ouve nosso clamor, às vezes, responde em pouco tempo e nos surpreende com uma bênção mesmo sem merecermos aqui e agora.
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