Ainda é possível se contar boas histórias.
Essa foi a conclusão a que cheguei depois de ver A Nona Vida de Louis Drax (The 9th Life of Louis Drax) pela Netflix.
O filme do francês Alexandre Aja, baseado no livro homônimo de Liz Jensen (compre o livro aqui), dosa muito bem os elementos de um bom suspense – com uma leveza invejável – e fantasia infanto-juvenil, que não descamba para a gratuidade dos elementos alegóricos vistos em outras obras do gênero.
A linguagem metafórica do roteiro aliada a uma direção que entrega elemento por elemento da grande narrativa produz uma exploração do imaginário infantil sem se desconectar do espectador em nenhum momento. Equivale dizer que, mesmo utilizando a voz narrativa de uma criança, Louis Drax – do título, interpretado pelo confiante Aiden Longworth – tende a se conectar com o adulto no sentido de colocá-lo no centro da ação e ao mesmo tempo transpor os limites do imaginário da criança e a sistemática construção do pensamento adulto.
Enquanto no Brasil temos as sete vidas de um gato, o longa faz uma referência ao mito relacionado às nove dos países de língua inglesa. Louis Drax é esse azarado menino que passou por muitos acidentes ao longo da vida e que, depois de 8 anos, cai de um penhasco e entra num estado de coma.
A parte do suspense diz respeito à outra linha narrativa que envolve a família de Drax, os detetives e o médico que o atende. Durante seu estado hospitalar, o menino é atendido pelo especialista que passa a crer que há algo de sobrenatural ocorrendo ali.
Fugindo do senso comum, o filme apresenta saídas criativas para situações-problema que usualmente seriam roteirizadas de maneira relaxada. O que vemos, porém, é o uso de planos e contraplanos para explicar visualmente algo que facilmente, em mãos menos hábeis, teria sido dito por uma das personagens. Não à toa, a paleta de cores chama muito a atenção e o diretor de fotografia Maxime Alexandre (de “Silent Hill: revelação 3D”) deve ter ajudado muito nessa construção.
A Nona Vida de Louis Drax é altamente indicado por apresentar uma metáfora bem construida, principalmente pelo que não é dito, e pode vir a ser um fôlego em dias tão sombrios.