O publicano que virou discípulo

A vocação de Mateus[1] é a que mais me impressiona. Como os demais discípulos, ele também se levantou e seguiu, porém, diferente dos demais, Mateus não poderia voltar atrás se Jesus fosse mais um lunático se proclamando o Messias. Abandonar a coletoria era quebrar a ponte atrás de si e confiar plenamente naquele que o […]



8 de junho de 2011 Bibotalk Reflexões
A vocação de Mateus[1] é a que mais me impressiona. Como os demais discípulos, ele também se levantou e seguiu, porém, diferente dos demais, Mateus não poderia voltar atrás se Jesus fosse mais um lunático se proclamando o Messias. Abandonar a coletoria era quebrar a ponte atrás de si e confiar plenamente naquele que o chamava.
Todos os discípulos eram pecadores no momento da convocação,[2] porém, eram israelitas em quem “não havia dolo” (Jo 1.47). Mateus não, era publicano, que na cultura da época era sinônimo de ladrão, assassino, saqueador, assaltante etc, os publicanos eram pessoas das quais se afirmava: “São amaldiçoadas!” (Jo 7.49). Se tornar publicano era conscientemente escolher:
• viver separado de Deus, do povo, da pátria;
• cometer consciente e continuamente pecados graves contra Deus, o povo e a pátria;
• suportar o desprezo de todas as pessoas decentes;
• ser castigado eternamente no inferno, segundo a concepção judaica.
Com esse currículo, o que Mateus poderia fazer se Jesus fosse uma farsa? Com certeza não seria aceito no antigo emprego e dificilmente pelo povo que antes extorquia. Viveria separado de Deus, do povo e da pátria e sem nenhum denário[3] no bolso.
Por isso vejo no chamado de Mateus uma beleza que não vejo na vocação dos demais, afinal, quando Jesus morreu na cruz, eles voltaram pra suas antigas ocupações, dando sinais de incredulidade. O que Mateus fez não se sabe, talvez ficou contabilizando seus recursos e calculando quanto tempo conseguiria se sustentar sem mendigar.
Jesus não impressiona só os fariseus ao chamar um publicano para seu círculo íntimo de amigos, provavelmente, os próprios discípulos ficaram escandalizados, Schlatter diz:
É provável que também em Cafarnaum os publicanos de lá tinham de taxar os peixes que eram trazidos à cidade. Desse modo Mateus, antes de ser coletor, já deve ter sido conhecido dos pescadores que acompanhavam Jesus. Aceitar um publicano no círculo dos doze causou permanentemente um forte escândalo entre os judeus, nos quais vigorava uma intensa aversão aos publicanos, circunstância da qual Mateus esteve sempre consciente.[4]
Mas é isso que Cristo faz, nos chama e nos capacita além de nós e além daquilo que os outros pensam de nós. Quando chamou Mateus para sua obra, não se importou com o status de publicano ou com o seu passado, nem fez uma entrevista ou um teste seletivo, simplesmente disse: Segue-me!
Penso que hoje não é diferente, Cristo continua chamando para sua obra pessoas de moral duvidosa e continua tendo prazer em participar de banquetes com miseráveis pecadores, porque pra Ele…,
não importa o que vem antes do Segue-me!
Leia o chamado de Mateus (Mt 9.9-13; Mc 2.13-17; Lc 5.27-32).[5]
Por Rodrigo Bibo de Aquino
@bibotalk

[1] As informações técnicas foram extraídas do comentário bíblico Esperança, na minha opinião, o melhor em língua portuguesa. RIENECKER, F. Evangelho de Mateus: comentário bíblico esperança. Curitiba: Esperança, 1994.
[2] E continuaram sendo até a morte, mas depois do chamado, se tornaram pecadores lavados pelo sangue do cordeiro.
[3] Moeda romana.
[4] SCHLATTER In: RIENECKER, F. Evangelho de Mateus: comentário bíblico esperança. Curitiba: Esperança, 1994. p. 98. (versão digital)
[5] A imagem foi retirada do site http://www.cantodapaz.com.br/images/vocacao_mateus.jpg