Igrejas sem esperança e acomodadas

Nós cristãos somos constantemente desafiados pela Palavra de Deus a não fincarmos as nossas raízes nas coisas desse mundo. Jesus pede para buscarmos o Reino de Deus em primeiro lugar (Mt. 6:33); Paulo nos alerta para pensarmos nas coisas que são do alto e não nas que são da Terra (Cl. 3:2), pois a nossa […]



4 de abril de 2015 Bibo Reflexões

Nós cristãos somos constantemente desafiados pela Palavra de Deus a não fincarmos as nossas raízes nas coisas desse mundo. Jesus pede para buscarmos o Reino de Deus em primeiro lugar (Mt. 6:33); Paulo nos alerta para pensarmos nas coisas que são do alto e não nas que são da Terra (Cl. 3:2), pois a nossa verdadeira Pátria está nos céus (Fp. 3:20) e Pedro nos lembra que somos peregrinos e forasteiros (1 Pe. 2:11). Estas coisas foram escritas para nos ensinar que nosso sistema de valores não está estabelecido de acordo com o sistema de valores do mundo. É por isso que Paulo nos desperta para renovarmos constantemente nossa maneira de pensar (Rm. 12:1-2). Mas esses alertas nem sempre são obedecidos. E a situação só piora quando a Igreja perde a esperança na vinda do Senhor, quando ela acaba por se acomodar ao padrão do mundo.

A Bíblia nos dá alguns exemplos de igrejas que perderam a esperança da vinda do Senhor e se instalaram definitivamente no mundo. Elas são mencionadas no livro de Apocalipse. Haviam se passado mais de 40 anos desde a fundação da maioria delas e, agora, perto do fim do primeiro século, elas haviam perdido sua esperança. Não é à toa que João começa seu livro lembrando de um fato que havia sido esquecido: Jesus vai voltar (Ap. 1:4).

Essas igrejas haviam perdido a esperança e entrado numa espécie de “piloto automático” eclesiástico. Assim, João dá algumas diretrizes a todas essas igrejas com a intenção de que elas permaneçam fiéis a Jesus, pois ele vai voltar, embora a essa altura elas já tivessem abandonado essa esperança. Ele pede à igreja de Éfeso para voltarem ao primeiro amor (Ap. 2:5); ele anima a igreja de Esmirna para continuarem até a morte, por que a verdadeira morte não acontece nesse espaço-tempo (Ap. 2:10-11); ele ordena à igreja de Pérgamo a abandonar os falsos ensinos (Ap. 2:16); ele ameaça a igreja de Tiatira para que ela abandone sua imoralidade sexual (Ap. 2:22-23); ele alerta a igreja de Sardes para que ela não deixe o pouco que resta morrer (Ap. 3: 2); ele relembra a igreja de Filadélfia que ele voltaria e que ela deveria reter firme o que ela ainda tinha (Ap. 3:11); ele aconselha a igreja de Laodicéia a voltar para Jesus, pois suas riquezas não valiam nada diante dele (Ap. 3:17-18).

Assim, o maior perigo para essas igrejas não eram as supostas perseguições imperiais[1] do fim do primeiro século, mas a desesperança em relação à volta de Jesus, e o estabelecimento do padrão ideológico do mundo na igreja. Portanto, os maiores perigos à igreja não vinham de fora, mas de dentro dela. Por isso ele diz que os servos de Deus não deveriam pensar e agir como o mundo de acordo com a visão da marca da besta na testa e na mão respectivamente (veja o video com o Bibo e o Mac explicando a marca da besta aqui). Dito de outra maneira, a realidade ideológica do mundo não condiz com a essência da Igreja.

João exorta as Igrejas a lutar contra o poder ideológico desse mundo por meio da visão da Besta, ao invés de compactuar ou se adaptar às suas exigências. A ideologia do mundo e a fé cristã são incompatíveis. A ideologia do mundo faz com que as pessoas existam apenas em função da marca da Besta que hierarquiza e uniformiza a todos. Porém, a imagem de todas as nações diante do cordeiro restaura o valor das diferenças e particularidades de cada um. A marca da Besta esvazia a noção de indivíduo. Por outro lado, aqueles que pertencem ao Cordeiro recebem um novo nome que está escrito no livro da vida, renovando dessa maneira, sua nova condição de ser.

Por fim, o sistema de valores desse mundo, representado pela Besta, exige uma adoração forçada; mas o cordeiro de Deus é adorado por ter dado sua própria vida em favor de todos os povos línguas e nações.

[1]   Hoje sabe-se que as perseguições de Domiciano não foram sistematicamente empregados em todos os lugares do império romano. Logo, Apocalipse não foi escrito para animar as igrejas sob perseguição, mas para que elas não se deixassem instalar neste mundo em vista da demora do retorno de Jesus.