A Crucificação…

A crucificação foi prática de tortura de fenícios e persas, sendo posteriormente usada pelos romanos. Somente escravos, anarquistas e os tipos mais baixos de criminosos eram crucificados. Depois de condenado e açoitado, o indivíduo carregava a travessa da cruz até o local da tortura e morte. Esse local era sempre fora da cidade, pois o […]



18 de abril de 2011 Bibotalk Reflexões
A crucificação foi prática de tortura de fenícios e persas, sendo posteriormente usada pelos romanos. Somente escravos, anarquistas e os tipos mais baixos de criminosos eram crucificados.
Depois de condenado e açoitado, o indivíduo carregava a travessa da cruz até o local da tortura e morte. Esse local era sempre fora da cidade, pois o condenado ficava vários dias na cruz. Foi essa travessa (patibulum) que Jesus carregou, não a cruz inteira.
O indivíduo era posto sobre a terra, totalmente despido, com a travessa sob os ombros. Suas mãos eram amarradas ou cravadas à mesma. Depois era elevado a um poste reto fincado no chão, onde seus pés também eram fixados, ficando poucos centímetros do chão. Não era tão alto como algumas imagens sugerem.
A dor era intensa, visto o corpo inteiro ficar sujeito a tensões. Depois de algum tempo as artérias da cabeça e do estômago ficavam cheias de sangue, causando uma dor de cabeça lancinante, eventualmente febre traumática e o tétano se manifestavam. No afã de livrar a vítima de seu intenso sofrimento, suas pernas eram quebradas, levando o crucificado a segurar todo o peso com os braços esticados, dificultando sobremaneira a respiração, e o golpe de misericórdia era dado com uma espada ou lança, usualmente no lado da vítima.[1]
A Cruz
Aqui reproduzo as palavras de John Stott no livro (leitura mais que obrigatória) A Cruz de Cristo.
       O Cristianismo, portanto, não é exceção quanto a possuir um sím­bolo visual. Todavia, a cruz não foi o primeiro. Por causa das selvagens acusações dirigidas contra os cristãos, e da perseguição a que estes foram submetidos, eles tiveram de “ser muito circunspectos e evitar ostentar sua religião. Assim a cruz, agora símbolo universal do Cris­tianismo, a princípio foi evitada, não somente por causa da sua as­sociação direta com Cristo, mas também em virtude de sua associação vergonhosa com a execução de um criminoso comum.”1 De modo que nas paredes e tetos das catacumbas (sepulcros subterrâneos na periferia de Roma, onde os cristãos perseguidos provavelmente se esconderam), os primeiros motivos cristãos parecem ter sido ou pin­turas evasivas de um pavão (que se dizia simbolizar a imortalidade), uma pomba, o louro dos atletas ou, em particular, de um peixe. Somente os iniciados saberiam, e ninguém mais poderia adivinhar que ichthys (“peixe em grego”) era o acrônimo de Iesus Christos Theou Huios Soter (“Jesus Cristo Filho de Deus Salvador”). Mas o peixe não permaneceu como símbolo cristão, sem dúvida porque a associação entre Jesus e o peixe era meramente acronímica (uma disposição fortuita de letras) e não possuía nenhuma importância visual.
     
      Um pouco mais tarde, provavelmente durante o segundo século, os cristãos perseguidos parecem ter preferido pintar temas bíblicos como a arca de Noé, Abraão matando o cordeiro no lugar de Isaque, Daniel na cova dos leões, seus três amigos na fornalha de fogo, Jonas sendo vomitado pelo peixe, alguns batismos, um pastor carregando uma ovelha, a cura do paralítico e a ressurreição de Lázaro. Tudo isso simbolizava a redenção de Cristo e não era incriminador, uma vez que somente os entendidos teriam sido capazes de interpretar o seu significado. Além disso, o monograma Chi-Rho (as duas primeiras letras da palavra grega Christos) era um criptograma popular, muitas vezes representado em forma de cruz. Esse criptograma às vezes continha uma ovelha em pé na sua frente, ou uma pomba.
      Um emblema cristão universalmente aceito teria, obviamente, de falar a respeito de Jesus Cristo, mas as possibilidades eram enormes. Os cristãos podiam ter escolhido a manjedoura em que o menino Jesus foi colocado, ou o banco de carpinteiro em que ele trabalhou durante sua juventude em Nazaré, dignificando o trabalho manual, ou o barco do qual ele ensinava as multidões na Galiléia, ou a toalha que ele usou ao lavar os pés dos apóstolos, a qual teria falado de seu espírito de humilde serviço. Também havia a pedra que, tendo sido removida da entrada do túmulo de José, teria proclamado a ressur­reição. Outras possibilidades eram o trono, símbolo de soberania di­vina, o qual João, em sua visão, viu que Jesus partilhava, ou a pomba, símbolo do Espírito Santo enviado do céu no dia do Pentecoste. Qual­quer destes sete símbolos teria sido apropriado para indicar um as­pecto do ministério do Senhor. Mas, pelo contrário, o símbolo escolhido foi uma simples cruz. Seus dois braços já simbolizavam, desde a remota antigüidade, os eixos entre o céu e a terra. Mas a escolha dos cristãos possuía uma explicação mais específica. Deseja­vam comemorar, como centro da compreensão que tinham de Jesus, não o seu nascimento nem a sua juventude, nem o seu ensino nem o seu serviço, nem a sua ressurreição nem o seu reino, nem a sua dádiva do Espírito, mas a sua morte e a sua crucificação. Parece que o crucifixo (isto é, uma cruz contendo uma figura de Cristo) não foi usado até o sexto século.


[1] WHEATON, D. H. in: DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. 378-379.